O amor que nos precede

O amor que nos precede

Irmãos e irmãs queridos, se quisermos ser sinceros, temos de admitir que escrever ou falar sobre o amor é façanha cada vez mais árdua. Corre-se o risco de cair na banalidade, na ambiguidade, no espiritualismo ou até no sentimentalismo. De maneira que os escritores, os pregadores ou mesmo os cantores do amor não nos convencem mais.

É que o amor, apesar de tanta promoção, ainda não passa de ilustre desconhecido. Dele ignoramos as fontes, as raízes, a autoria e até o tempo de aparecimento. Ignoramos que ele não nasceu conosco e que não somos nós seus inventores: ele preexiste e nos precede desde a eternidade. De fato, “nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Deus que nos amou primeiro” (1Jo 4,10).

Na raiz do amor, então, está a liberdade de Deus, que primeiro nos amou e, por isso, nos chamou à existência. Quer dizer que, se não houvesse esse “amor preexistente”, ninguém estaria aqui para contar a história.

Portanto, o amor que nos precede é filho da liberdade de Deus. Não era necessário que ele nos amasse e nos lançasse no rio da vida: fez isso livre e gratuitamente. Mas com a condição de que nós também entrássemos no ritmo do amor gratuito, a fim de que a vida adquirisse seu autêntico sentido.

Com demasiada frequência, porém, cedemos à tentação de atraiçoar o amor que nos precede. Andamos pensando que amar é escolher – e escolher é excluir. Ao contrário, o amor é força que tende para a unidade e não tolera exclusões.

Então, revisitando as raízes do amor, chegamos até o verdadeiro Deus. O qual, como é lógico, ama a todos, mas não deixa de ter certa queda por aqueles que nós costumamos excluir.

Conclusão: o amor que nos precede e nos acompanha um dia se encarnou e se tornou visível em Jesus Cristo. E hoje, quem deveria encarná-lo e torná-lo visível – a não ser eu e você?

Pe. Virgílio, ssp

 

Fonte: Paulus