Aparecida das Águas - Pe. Rodrigo

Aparecida das Águas - Pe. Rodrigo

Aconteceu há 297 anos, em outubro de 1717. Os moradores da Vila de Guaratinguetá, no Vale do Rio Paraíba do Sul, souberam da visita do novo governador da Capitania de São Paulo e das Minas do Ouro. Mesmo não sendo tempo de pesca, ordenaram ao povo que providenciasse os peixes para receber com um banquete o governador e sua comitiva.

Sem alternativas, os pescadores se lançaram às águas. A aflição aumentava cada vez que as redes voltavam vazias. Após uma noite de insucesso eles fizeram uma prece à Mãe de Deus. Suplicaram àquela que resolveu a falta de vinho em Caná que resolvesse agora a falta de peixes em Guaratinguetá. Fico imaginando Maria, como disse a seu Filho “eles não tem mais vinho”, dizendo agora “eles não tem mais peixe”.

Desceram o curso do rio até o chamado Porto do Itaguassu, nada de peixe nas redes, mas um leve peso chamou a atenção. Era uma imagem pequenina, 38 centímetros, retratava a Virgem Maria grávida. Uma imagem sem beleza, feita de barro cozido, sem muito acabamento, apesar de alguns detalhes como a faixa acima de sua barriga gestante. Fora desprezada e jogada no rio, talvez por não ter ficado tão bela quanto se desejava. No fundo das águas é como que dada por morta. De fato ela é encontrada sem a cabeça, degolada. Teve a sorte de muitos injustiçados. Ficou suja com o lodo do rio e a fumaça das velas. Ficou negra, da cor dos escravos, da cor dos excluídos.

Quem poderia imaginar que o aparecimento daquela imagem traria consigo os peixes tão procurados? Que valor teria o lugar de uma pesca fracassada e uma imagem sem beleza, pequena, degolada, negra e até muda (noutras aparições a Virgem Maria sempre fala, em Aparecida ela é totalmente silêncio, o silêncio dos contemplativos e o silêncio dos sem voz). Quem diria que aquele lugar e aquela imagem se tornariam o coração do nosso país?

Esta Solenidade da Padroeira do Brasil nos deixa uma mensagem muito clara: Deus sempre nos surpreende! Portanto, não temamos os aparentes fracassos desta vida. O dragão dá medo, mas, acreditem: ele já perdeu. Um dia faltou vinho, noutro faltou peixe, hoje falta água e, o que é pior, falta vergonha, mas, Deus nunca nos deixou nem vai nos deixar desamparados. Quanto a Maria, só digo uma coisa: ela se preocupa mesmo conosco, nos ama de verdade, é Mãe pra valer, e dessas que não desistem de nos ensinar as lições mais importantes. A dela é a seguinte: façam tudo que meu Filho vos disser!

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