FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER - JO 2, 1-11

1. Situando-nos diante do texto do Evangelho

No início do tempo comum, depois do Natal e antes da quaresma, lemos o início da missão de Jesus com o chamado dos discípulos e a proposta do reino. “No ano C, é Lucas quem nos conduz; ele insiste no seguimento radical de Jesus, ensina-nos a orar, a amar, a perdoar, a nos deixar guiar pelo Espírito, a levar em conta as mulheres, a colocar no centro de nossa vida o acolhimento e a preocupação com os pobres...” (Ione Buyst).

 

Neste segundo domingo, celebramos a manifestação de Deus em Jesus, em Caná da Galileia, no contexto de um casamento. E aí Jesus realiza o seu primeiro sinal.

 

Somos convidados a renovar a fé no Deus que faz aliança conosco e é fiel sempre.

 

2. Recordando a Palavra

O texto do Evangelho de João pertence ao conjunto de 1,19-2,11 e narra o primeiro sinal realizado por Jesus, numa festa de casamento. A imagem nupcial simboliza a relação amorosa de Deus com o povo (cf. Os 2,16-22). Maria estava presente na festa e, também, Jesus e seus discípulos haviam sido convidados. As celebrações de núpcias duravam em torno de uma semana e se caracterizavam pela alegria e pelo júbilo, onde não podia faltar vinho.

 

Jesus é o Messias que celebra as núpcias com toda a humanidade, oferecendo o vinho novo através da vida, morte e ressurreição. Por isso, a festa ocorre “no terceiro dia” que plenifica a semana iniciada em Jo 1,19ss. Assim, recordando a criação, aliança, ressalta-se a salvação que está atuando em Jesus. Mas a sua “hora ainda não chegou”, isto é, a glorificação na cruz que plenifica a sua obra de salvação. A mãe de Jesus, fiel à aliança e portadora das promessas messiânicas, percebe que “eles não têm mais vinho”.

 

A mãe, chamada por Jesus de mulher, como no Calvário, crê na obra do Filho, como acreditará aos pés da cruz (19,25-27). Sua adesão, como verdadeira discípula, encaminha os que servem o vinho a Jesus: ”Fazei tudo o que ele vos disser” (2,5). Como representante do povo, Maria intercede pelo o vinho que plenifica a aliança e proporciona “a vida em abundancia”. A água transformada em vinho é aquela das talhas de pedra para a purificação ritual.

 

Jesus se manifesta como o “vinho bom e abundante” que traz a alegria messiânica e transforma a vida na grande festa do Reino. A abundância de vinho sinaliza a chegada dos tempos messiânicos da salvação (cf. Is 25,6), que restauram e libertam o povo (cf. Jr 31, 4-5). Como sinal do vinho novo, Jesus realiza plenamente o banquete messiânico, a esperança profética (Is 54, 4-8; 62, 4-5). Assim, ele “manifestou sua glória e os seus discípulos creram nele” (2,11).

 

A primeira leitura pertence ao terceiro Isaías (caps. 56-66) e está situada, no pós-exílio, no período de reconstrução da cidade devastada. O profeta suscita a esperança, pois Deus manifestará a salvação. Ele utiliza a imagem do casamento para expressar a alegria que Deus, o esposo, sente pelo povo, sua esposa amada.

 

Deus não abandona e permanece fiel à aliança, apesar das infidelidades do povo. A sua presença fortalece a missão de tornar a terra deserta, fecunda e produtiva. Impele a construir um mundo novo, através da justiça e da solidariedade.

 

O salmo 96(95) é um hino de louvor ao Senhor, Criador e soberano que governa o mundo com justiça e lealdade. Convida a anunciar a salvação, a vitória que oferece ao povo. “Dar a glória que é devida ao seu nome” consiste em reconhecê-lo como Senhor, homenageando-o com dons e oferendas.

 

A segunda leitura, da primeira carta aos Coríntios, mostra que todos os dons são dádivas de Deus e devem estar a serviço da edificação do bem comum. A comunidade, na diversidade de dons e de serviço, forma um só corpo, no mesmo Espírito.

 

Sendo expressão de unidade, não exclui ninguém. O espírito, que recebemos no batismo, leva a superar todas as distinções e a formar uma comunidade de irmãos e de irmãs, reconhecendo Jesus Cristo como Senhor.

 

3. Atualizando a Palavra

O casamento em Caná é o primeiro dos sete sinais, escolhidos pelo evangelista para revelar Jesus como Messias e Filho de Deus. É o início da glória de Cristo que se plenificará, através de sua entrega na cruz. A água, transformada em vinho, é sinal da vida nova, do vinho novo da salvação, que o Senhor oferece de forma abundante como esposo da humanidade (3,29).

 

Os discípulos expressam sua adesão a Jesus, através do acolhimento aos sinais de amor e de salvação. O Senhor permanece fiel à aliança e nos cumula de dons para que possamos colocá-los a serviço da edificação da comunidade, criando relações fraternas. Por meio da fé em Jesus Cristo, formamos um só corpo, no mesmo Espírito.

 

Maria é modelo de fidelidade à aliança, ao plano de amor de Deus, revelado em Cristo. Com solicitude maternal, ela percebe que “eles não têm mais vinho”. Sua atitude nos ensina a sermos pessoas sensíveis e comprometidas com as necessidades dos irmãos e das irmãs. Maria não cessa de interceder junto Filho para que a humanidade alcance a vida em plenitude.

 

O documento de Aparecida, número 364, convida que “fixamos o olhar em Maria e reconheçamos nela a imagem perfeita da discípula missionária. Ela nos exorta a fazer o que Jesus nos diz (Cf. Jo 2,5) queremos estar atentos uma vez mais à escuta do Mestre e, ao redor dela, voltarmos a receber com estremecimento o mandamento missionário de seu Filho: “Vão e façam discípulos todos os povos” (Mt 28,19). Escutamos Jesus como comunidade de discípulos missionários, que experimentam o encontro vivo com ele, e queremos compartilhar todos os dias com os demais essa alegria incomparável”.

 

O encontro com Cristo proporciona experimentar o melhor vinho que salva e dá sentido à nossa festa. Como verdadeiro esposo, Jesus está sempre presente para oferecer o vinho novo, sinal de seu amor e de sua ação libertadora. Somos chamados a distribuir o vinho que o Senhor nos oferece, entre os convidados, para a grande festa da vida. O nosso anúncio deve irradiar a alegria da festa, do banquete do Reino.

 

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística

O Senhor, que é fiel eternamente, nos reúne e nos une em seu amor. A comunidade, na diversidade de dons, tem mesmo Espírito e responde ao convite do Senhor cantando seus louvores.

 

Hoje, na celebração litúrgica, a comunidade renova a fé em Jesus Cristo que realiza sinais no meio de nós. Ele nos entrega sua palavra e seu corpo e sangue. Ele prepara abundantemente as mesas que nos alimentam e nos dão vida. Participando constantemente da Eucaristia, celebrando o sacrifício de Cristo, torna-se presente a nossa redenção (cf. Oração pós-comunhão).

 

O Senhor nos ama e nos cumula de dons. Que ele nos santifique e nos ajude a passarmos de um velho modo de viver para uma vida nova.

 

Na graça do Senhor da aliança, apresentemos a “hora” de Jesus para que os sinais de vida e salvação sejam abundantes e plenos no meio de nós.