Violência às crianças e aos idosos - Dom Aldo Di Cillo Pagotto

 


O dia 15/6 foi dedicado ao combate à violência aos idosos. Como combater os maus tratos infligidos às crianças e às pessoas idosas: os dois extremos sociais que requerem a nossa atenção? Se esses dois extremos estão profundamente fragilizados é porque enfrentamos uma crise de valores éticos e morais sem precedentes. Crianças são usadas, abusadas e descartadas. Não se improvisa alguma política sobre a criança e sobre os idosos. Ambos merecem um planejamento sério.

O que precisamos é reaprender como conviver em família e na sociedade. Precisamos começar pela educação dos pais. É preciso aprender ser pai para poder educar os filhos. É preciso aprender a dar valor e a respeitar o ser humano. Educar para o amor - é isso que está faltando! A situação de muitas crianças e das pessoas idosas é de extrema vulnerabilidade, porque rara é a boa educação oferecida e recebida nos lares. Poucas famílias conseguem viver relacionamentos baseados no afeto e na segurança.

A Pastoral da Criança e a Pastoral da Pessoa Idosa contam com voluntárias(os) que visitam as famílias, envolvendo-as nas dimensões espirituais e materiais. Elas tentam dar uma resposta a tantos problemas de carência e violência. O segredo dos resultados consoladores deve-se ao cultivo da espiritualidade. A preservação e a defesa e promoção da dignidade da vida da criança e da pessoa idosa devem-se ao amor de Deus e aos princípios básicos de conhecimentos pediátricos e geriátricos.

Nossas voluntárias são capacitadas para trabalhar em espírito de equipe, envolvendo as famílias nos cuidados elementares. Esse trabalho corresponde às verdadeiras políticas públicas de prevenção de doenças, de maus tratos, abandono e outros erros grosseiros que tanto infelicitam ou mesmo agravam a situação de desprezo e por fim de morte aos seres indefesos. Por onde começar se por vezes a gente se sente impotente diante da violência generalizada?

Começa-se pelo aprendizado do carinho familiar, sem deixar de contar com políticas sociais inadiáveis. Na sociedade de consumo, a pessoa idosa é considerada uma mala sem alça da qual é preciso se livrar. Não raro a pessoa idosa é considerada como carta fora do baralho porque não é produtiva. Seu valor moral é substituído por outros padrões. Hoje a sociedade vive das aparências: imagens joviais, sexys, viçosas, cheias de vigor. O que é velho se joga fora. Distanciamo-nos dos parâmetros culturais humanitários e cristãos.

A proposta da Pastoral da Pessoa Idosa visa o envelhecimento saudável, assim como a Pastoral da Criança visa o seu desenvolvimento pleno. Salvar vidas é o nosso ideal, superando a ideologia da privação, dos maus tratos, do estado de abandono em que se encontram tantos seres humanos. A violência que se impregna nas estruturas da sociedade grassa dentro de casa.

Hoje, crianças tornam-se passíveis de abuso sexual. Idosos sofrem agressões físicas e privações morais. Não raro a criança e a pessoa idosa são negligenciadas ou agredidas de forma direta. Desaparece o espírito de dedicação incondicional dos que se sacrificam pelos outros, sabendo que é preciso renunciar a gostos pessoais para atender aos interesses da coletividade. Nossos relacionamentos atendem aos interesses imediatos, oportunistas, artificiais. Muitas pessoas não se sentem amadas pelos seus em sua própria casa. Adolescentes pouco se identificam com os pais e com os avós. Identificam-se com a galera ou com artigos dos shoppings.

O amor verdadeiro é recurso básico que as famílias não podem deixar de oferecer às crianças e às pessoas idosas. Por outro lado, esses dois extremos exigem de cada um de nós, além dos cuidados essenciais, o espírito humanitário, o preparo espiritual. Nem sempre nos mostramos dispostos a fazer da nossa vida um dom de amor pelos que se encontram fragilizados. A dedicação depende do amor que cada um tem no coração, ainda que não se possuam recursos materiais.

Fonte: CNBB