Neste domingo, termina o ano paulino, instituído para comemorar os dois mil anos de nascimento do Apóstolo São Paulo. A iniciativa encontrou adesão espontânea em toda a Igreja.
Fazia sentido! Depois de celebrados os dois mil anos de Jesus, nada mais condizente do que celebrar a personalidade humana que, depois de Cristo, historicamente mais determinou as feições do cristianismo. Tanto que alguns o consideram como verdadeiro fundador, no sentido de ter ele, Paulo, dado o formato teórico da nova expressão religiosa, que se propagou com rapidez surpreendente no império romano, e se tornou a religião com maior número de seguidores no mundo inteiro.
Concluído agora o “ano paulino”, podemos melhor nos dar conta de como é fortemente “paulina” a formulação da fé cristã, e continuam sendo muito “paulinas” as feições da Igreja de Cristo.
Algumas dimensões merecem destaque. Uma delas sobressai, pela amplidão do seu significado. Antes de sua conversão, Saulo personificava a oposição mais radical e mais feroz à nova religião que estava surgindo. Mas a rejeição radical levou à adesão profunda e envolvente. Na experiência de Saulo, que o levou a ser “Paulo – o Apóstolo das nações”, a fé cristã mostrou sua singular força de atração, com a capacidade surpreendente de iluminar a inteligência e de seduzir a vontade humana, no pleno respeito à dignidade e à liberdade.
Em Paulo, toda pessoa encontra inspiração para empreender a mesma trajetória. Da atitude de descaso, ou até de rejeição, quem resolve se defrontar com Cristo, percebe logo a sintonia profunda que é possível estabelecer entre fé e razão. Em Cristo se harmoniza, com perfeição, a natureza humana com a natureza divina. Paulo, com sua busca radical da verdade, nos dá a demonstração cabal de quanto a fé cristã não só é palatável à inteligência, mas tem a força de atraí-la, e quanto o seguimento de Cristo abre caminho para a verdadeira realização humana.
Em Jesus, temos a presença plena do mistério de Deus na humanidade. Em Paulo, temos a demonstração de como esta presença se coaduna com nossa condição humana. Esta a grandeza maior de Paulo.
Mas as lições do ano paulino não param aí.
Sua experiência de conversão é comovente, e sobretudo exemplar. Tinha um temperamento difícil, com seu ânimo impetuoso suscitando muitos atritos, mesmo entre os cristãos. Precisou empreender um longo e penoso itinerário de conversão que o levou a passar anos em Tarso, onde finalmente Barnabé foi buscá-lo. A vida de Paulo se constitui em precioso exemplo de empenho pessoal para colocar as energias vitais a serviço da causa de Cristo.
Outra lição está na centralidade de Cristo. Da rejeição inicial, quando Saulo achava que o Nazareno tinha sido um taumaturgo perturbador da ordem religiosa, Paulo foi aos poucos se dando conta da densidade do mistério de Jesus, “em quem está a plenitude da divindade”. Tanto que no final de sua vida, Paulo pôde dizer com sinceridade: “Para mim, o viver é Cristo!” Perceber como em Cristo encontramos a síntese do mistério e do projeto de Deus, é outro salutar testemunho que Paulo nos deixou, e que o ano paulino nos recorda.
Podemos identificar outros aspectos importantes, que acabaram sendo ressaltados por este ano providencial, que está se encerrando. Como por exemplo a importância da missão, que possibilitou a Paulo desabrochar seus talentos na evangelização dos gentios. E a validade de sua estratégia de deixar por escrito suas mensagens, nas numerosas cartas que continuam alimentando a Igreja.
Na verdade, em Paulo reconhecemos um dom precioso, do qual a Igreja nunca poderá prescindir, para formular sua fé e para cumprir sua missão.
Fonte: CNBB