Estamos na era do voluntarismo em que, não raro, a vontade da pessoa se sobrepõe a muitos valores objetivos. Deste modo, mandamentos, regras, valores, verdades e até a ética ficam à mercê do relativismo interesseiro das pessoas. As conveniências pessoais, corporativas e partidárias muitas vezes fazem as próprias "verdades" em detrimento de valores maiores. A ética, no caso, fica sujeita à estatística subjugada às opções ou aos interesses nem sempre condizentes com a dignidade da vida e do respeito à natureza dos seres.
Hoje se troca muito a obediência a valores humanos e divinos pela subjugação a ditames da moda, dos atrativos sensoriais, do bem-estar sem compromisso com ideais exigentes, de parte da mídia... Prefere-se a escravidão a si e aos interesses econômicos de poderes comandantes, com propostas de opções aliciantes, do que seguir orientações e normas indicadoras de valores e ideais de efeito altamente humano e realizador da pessoa humana. O próprio Jesus fala da realidade do tesouro a se conquistar na vida: "Onde está o teu tesouro estará teu coração" (Mt 6, 20). Se nossa perspectiva de vida forem os vícios, a satisfação dos instintos e o consumismo, nossa vida vai ser uma busca constante da obediência aos caprichos do nosso eu pouco domesticado ou orientado para um tesouro muito diminuto na vida.
Deus nos apresenta os mandamentos para nosso próprio bem. Se todos os seguissem teríamos mais justiça, respeito à vida, à dignidade humana, ao meio ambiente. O resultado seria de benefício a todos. Prefere-se o desenfreio dos instintos, que podem nos animalizar demais, em detrimento de nossa dignidade. Esta nos faz usar a razão para convivermos como pessoas humanas e distintas, com altivez de caráter e merecedoras de recompensa enorme diante do Criador. Jesus nos lembra: "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor... Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei" (Jo 15, 10.12). Na vida somos chamados a seguir um ou outro caminho: o da obediência ou escravidão a nós mesmos ou a obediência a Deus com a libertação que Ele nos traz. Os mandamentos de Deus promovem nossa liberdade e realização na vida. Sem aceitarmos o amor e a atuação do Criador em nossa vida, nós nos engolfamos em nossos limites, pensando que somos livres e nos condicionamos aos nossos próprios condicionamentos.
Deus é a fonte do amor. Tudo o que somos e fazemos não nos realiza se não vivermos para amar de verdade. Todo sacrifício na vida, realizado por amor, não nos pesa a ponto de percebermos que nossa existência vale para realizar um ideal de nossa doação e construirmos o bem do outro. Sem amor, buscamos quase sempre o que nos interessa momentaneamente sem saborearmos o ato de nossa entrega para servirmos à causa do bem do semelhante. Quando nos enchemos do amor de Deus, obedecendo ao que Ele nos propõe, encontramos força para amar de verdade e nos realizarmos como pessoas humanas.