Jesus, o justo, vítima da pena de morte

Jesus, o justo, vítima da pena de morte

Não matarás, ordena o autor da vida! O espírito de domínio, mal que atinge a todos, indistintamente, precisa ser combatido através de um processo pedagógico de desconstrução das idéias e sentimentos que expressam uma maneira de pensar e de agir sobre os outros em vista de um agir com e para o outro o que, na linguagem religiosa, chama-se de conversão.

Somos todos convocados pelo Mestre Jesus a nutrir nossa consciência e nosso coração com o espírito de cooperação para com os outros, sobretudo, para com às vítimas da cultura da morte. A lei de Cristo é esta: “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os outros vos façam, fazei-o vós a eles, pois nisto consiste a Lei e os Profetas” (Mt 7,12). O amor é a Lei de Cristo. Portanto, ame e faça o que quiser, ensinava o grande cristão Santo Agostinho.

Ao ser humano tudo é permitido, menos comer do fruto proibido, diz as Sagradas Escrituras. Um dos frutos proibidos é tirar a vida do outro, pois, “dar e tirar a vida” é ordem natural, é lei divina: Não matarás! Esta é a ordem do autor da criação. Caim foi, segundo Gn 4, o primeiro a descumprir esta ordem divina. Por inveja ele matou o próprio irmão. Mas Deus lhe pede conta de Abel: Cadê o teu irmão? Esta pergunta significa que cada ser humano tem a custódia um do outro. Isto é, somos responsáveis pela vida uns dos outros. Deus continua fazendo esta pergunta a todas e todos, principalmente, aqueles que matam ou aqueles que têm maior responsabilidade na sociedade. A resposta de Caim a pergunta de Deus foi dissimulada e profundamente irresponsável: Serei eu, por acaso, guardião do meu irmão!

Matar ou ignorar o outro que padece são duas maneiras igualmente perversas que ferem de morte a dignidade da pessoa humana e, conseqüentemente, o seu criador. Jesus corrige isso no comportamento dos judeus, ditos justos, quando lhes apresenta o bom samaritano como modelo de justiça que agrada a Deus (Lc 10,29-37). O espírito de cooperação daquele bom homem rendeu ao enfermo uma nova vida. E Jesus ordena: Vão e façam o mesmo!

Jesus Cristo foi vítima de uma sociedade injusta, onde os pobres eram punidos e os grandes beneficiados pela lei injusta do foro privilegiado. Ele foi vítima da pena capital, aplicada somente aos grandes criminosos. Mas ele foi fiel, nunca se utilizou de qualquer mecanismo de violência ou injustiça para se promover ou se defender, colou sua vida a serviço da salvação de todos que nele crêem e o obedecem. Ele é o Filho de Deus, igual a nós em tudo, menos no pecado.

Jesus, com palavras e atitudes, contrariou a concepção do exercício do poder para se servir e dominar; condenou o uso do nome de Deus para oprimir ou escravizar; definiu a defesa da vida e a promoção da dignidade da pessoa humana como prioridade de sua missão e condição para que nós entremos no Reino de Deus; priorizou os bens comunitários ao invés daqueles individuais; colocou-se em defesa dos pobres e pequenos; publicou a sua Lei, o amor, e diz que seus discípulos serão reconhecidos como tais na fidelidade a esta Lei.

A nova Ordem social que Jesus inaugurou incomodava a quem se beneficiava dos sistemas injustos que desfavoreciam os pobres, condenando-os à miséria. Jesus se tornou defensor dos indefensáveis. Por isso foi acusado e condenado por subversão e blasfêmia. Isto é, ensinou que as leis de sua pátria eram injustas e precisavam ser mudas; que Ele era o Filho de Deus e ninguém chegará ao Pai se não por Ele.

Com a vitória de Cristo sobre a morte, pela ressurreição, todo poder maligno fica derrotado e seus promotores humilhados. A morte, o maior de todos os males, não tem mais a última palavra. No mistério pascal celebramos a vida que vence a morte. O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia!                                                                                                                        (Pe. Elias Ramalho Gomes)