Pra variar

Casa Velha!!

Por Francisco Almeida

          Do fim do terreiro observo uma casa em ruínas que briga com o tempo pra manter-se em pé.  Sinto um nó na goela denunciando que bons anos da minha vida foram vividos ali. Olho pra estrada, que passa à frente, e lembro que ela levou-me a outros rumos. Chorei ao partir e choro ao voltar. Chorei sem querer sair, choro sem querer ficar.
         

Casa velha!


          Em seu derredor brinquei, cai, corri e  jazi um pouco com os que em ti  jazeram. Amei-te enquanto pude,  lembrei-te  o  tempo inteiro.
          Sob tuas telhas, à luz do candeeiro que me enchia os pulmões de fumaça, aprendi a rezar o terço; a debulhar o feijão, ao som das estórias assombrosas que me tiravam o sono. 
          Nas tipóias da vida repousei meu franzino corpo que se entregava ao sono embalado na lembrança das latas e da cacimba que me esperavam ao raiar.
Formigas aos pés, foice à mão, pêlo de capim às costas.

Casa velha!
 

          Por anos a fio suspeitei que havia me livrado dos fantasmas que povoavam as oiticicas de tua estrada.
Dancei!
Aqui estão eles, às 2:46  da manhã de mais um dia da minha história.