Quem sou? De onde vim? Pra onde vou?
(as mesmas de sempre)
Por Francisco Almeida de Lucena
Uma cena bíblica que sempre insiste em povoar a minha mente é a de Jesus lavando os pés dos seus discípulos (Jo 13, 1-17). É uma cena inspiradora e perturbadora ao mesmo tempo. Imagino Pedro espantado frente à decisão de Jesus de lavar-lhe os pés: “Não me lavarás jamais os pés!” a vossa dignidade e a consideração que tenho por vós não permite que isto aconteça (grifo meu). “Afasta-te de mim satanás, pois não pensas as coisas de Deus, mas dos homens” (Mt 16, 23) – dissera Jesus outrora ao mesmo Pedro.
Outro dia, em uma visita que fiz a uma família, tomei um susto quando diante da minha atitude de me sentar ao chão, um grito da dona da casa me dizia, “Padre, pelo amor de Deus, não faça uma coisa dessa!” Os filhos estavam sentados ao chão, sobre almofadas, mas eu não poderia fazer o mesmo. Por quê? A resposta é simples: Eu sou um padre! Continuo sem aceitar a justificativa. Em absolutamente nada o padre é mais digno que qualquer outra pessoa. A dignidade humana não advém dos títulos, funções ou ministérios que uma pessoa exerce, vem do fato de ser ela criatura amada de Deus, e todos somos.
Nos acostumamos às honras e por isso perdemos a gratuidade e a simplicidade cristãs que Jesus tanto nos ensinou. Nos encantamos pelos floreados palacianos e nos afastamos da humildade evangélica que caracterizou as primeiras comunidades cristãs. Andamos errantes e ofuscados pelo brilho das nossas vaidades e ambições; um pêndulo inquietante nos confunde a alma e gritamos desesperados frente às incertezas que nos rondam o espírito: “Diga-me onde estás, Senhor! Diga-me onde estou eu!!”