Às almas

As pesadas vozes das almas vagueiras - que foram transformadas em vaqueiras pelo equívoco da homofonia - chegam-me aos ouvidos com suas lamúrias, advertências e reclames como se uma criança eu fosse em busca de um referencial humano para apoiar os meus pés.
Pobres almas! Se reza querem, farei esse esforço; mas, deixem que os sonhos e os ideais que movem e dão encanto à vida não sejam sufocados pela covardia de um subterfúgio medíocre de quem aspira a lama ao invés dos ares.
Se eu pudesse pediria emprestado à Lua a cadência e beleza de suas palavras para dizer, ó almas, o quão indiferente tento ser aos seus maus agouros e seus olhares sombrios e inquisidores. Se soubessem, ó almas, que o seu vagar é a denúncia do seu fracasso talvez suas atitudes seriam bem outras.
Em respeito à memória da minha mãe-vó, que, na sua simplicidade e inocência, devotava a vocês um terço  diário, desejo a todas um descanso bem eterno, tão eterno que o barulho da minha inquietação não seja capaz de incomodá-lo.
Amém!