Disfarçamos nossas fraquezas e nossos fracassos impondo a nós mesmos e aos outros uma pintura fosca e disforme de um ser em frangalhos. Recolhemos os cacos da vida e com eles tentamos, a todo custo, construir um vitral em mosaico que impressione os mais distraídos. Fazemo-nos de fortes e não nos damos o direito de recomeçar de verdade.
No horizonte da fé buscamos as respostas e explicações mais cômodas e apaziguantes temendo os desafios do auto-conhecimento.
A passos lentos vamos trilhando o caminho que nos indicam e não o que construímos a partir da experiência e das descobertas do encontro conosco, com o outro e com Deus.
Assumimos discursos, empunhamos bandeiras, defendemos causas sem sequer termos delas convicção, aliás, convicção é algo que está em falta em nossos cenários.
Nos conformamos com o mínimo por não acreditarmos em nós mesmos ou pela alienação barata de uma simplicidade fingida e uma humildade forjada.
Construímos um deus a nossa imagem e semelhança temendo que o verdadeiro exija atitudes prudentes e corajosas que façam jus a tudo o que Ele nos deu como instrumentos para a construção de um mundo e de uma sociedade que visibilizem o bem e a beleza, que são as marcas do Criador.
Fazemos as vontades dos outros porque as nossas ou não sabemos quais são ou exigiriam um esforço suficiente para nos tirar da inércia e mediocridade que nos caracterizam.
Posamos para a foto conforme os comandos do retratista, como se dele dependesse a beleza ou a feiúra da nossa imagem.
Negamos a idade, tingimos os cabelos, esticamos a pele, como se a morte chegasse só para os envelhecidos.
Enfim, fugimos desesperadamente de nós mesmos. Fugimos, fugimos e nos deparamos sempre com a nossa própria sombra que nos assombra.