De volta ao Concílio

De volta ao Concílio

 

              Por Francisco Almeida

 

          No início da década de sessenta, do século passado, o papa bom (João XXIII) surpreendeu o mundo e a cúria romana com a  convocação de um Grande Concílio. Seria necessário, segundo ele, abrir as portas e as janelas da Igreja para que os ares fossem renovados pelo sopro do Espírito Santo. Esta convocação foi um tanto solitária, uma vez que a cúria romana reagiu com desconfiança e insegurança à convocação do Pontífice. O mundo vivia um clima de instabilidade política e pululava no seio da Igreja um forte desejo de transformação. A Europa respirava uma tal de Nova Teologia, que a partir da França invadia os demais países e encantava os jovens estudantes de teologia; tal corrente teológica encontrava eco na América Latina e aqui se tornava prática eclesial sob a batuta da excomungada Teologia da Libertação.

         Seria impossível barrar a influência dessas teologias nas decisões de um Concílio que pretendia ser ecumênico. De tudo se fez, porém a teimosia do velho papa não permitiu que os mais novos e calculistas membros da cúpula da Igreja barrassem a força do Concílio.

         O temido se confirmou. Centenas de teólogos, assessores dos bispos delegados do concílio, invadiram os corredores do Vaticano como que levando os novos ares queridos por João XXIII. Eu pagaria caro para ver o rosto assustado dos membros da Cúria ao verem aqueles teólogos com suas idéias liberais e renovadoras traçando, nas praças e corredores da sede da Igreja, as linhas de uma Igreja de rosto mais humano, materno e solidário aos mais pobres e necessitados. Ensaiou-se uma reação, era preciso e urgente um contra-ataque; a Igreja tinha sido invadida, “os inimigos” haviam ocupado a sua sede, e, o pior, a convite do chefe da casa. Parecia impossível evitar o “estrago” ele já estava em curso. A estratégia de emergência foi pensada a longo prazo: Desconstruir o Concílio; relegá-lo ao esquecimento oficial; lançar outras encíclicas de impacto para tentar dispersar  as temáticas Vaticano II; substituir os bispos empolgados com o Concílio por outros mais saudosistas de uma Igreja pré-conciliar. E tudo isso sob o belíssimo slogan de uma “Nova Evangelização.”

        O sucesso da estratégia tem sido extraordinário e a verdade é que precisamos de garimpeiros para o que restou do Concílio Vaticano II. O compêndio do Concílio parece estar escondido nas estantes empoeiradas dos teólogos e agentes de pastorais que parecem desanimados frente à campanha para obscurecer os frutos da graça do Espírito que trouxe novos ares para a vida eclesial da Igreja.

         Garimpeiros, à luta!!!