Em busca de uma fantasia

Em busca de uma fantasia

 

Por Francisco Almeida

          

         Encontros e desencontros caracterizam as nossas vidas. Carregamos conosco o maior inimigo que, antecipadamente, já tem a certeza de que nos vencerá. A nossa luta consiste em adiar ao máximo essa vitória da morte sobre nós. Mas, olhando por outro ângulo, chegamos à conclusão de que é graças à morte que gostamos da vida, que nos agarramos a ela como se fosse uma tábua única em meio às águas agitadas de um bravio mar.        

         Nessa dinâmica dos contrários, orquestrada por essa tensão entre a vida e a morte, o sujeito corre o risco de deixar-se envolver excessivamente pelos conflitos que marcam a marcha da vida. Tais conflitos são exatamente o reflexo do conflito mestre constantemente em curso. A má compreensão e administração das tensões periféricas podem levar a uma desestruturação do ser fazendo-o perder o controle sobre seus impulsos e instintos num desequilíbrio significativo que interfere significativamente na convivência com as demais pessoas e na harmonia do próprio ser.        

         Nessa luta travada entre o ser e o não-ser vale tudo para fugir dos sinais eminentes de uma destruição.    A partir dessa necessidade de sobrevivência o ser lança mão de mecanismos compensatórios de diversas ordens. É nesse processo que começam a se formar as fantasias fracas e/ou fortes que nos permitem acreditar em coisas que, mesmo não sendo reais, nos garantem uma estabilidade psico-emocional. A administração e consistência dessas fantasias nos garantem o equilíbrio afetivo e emocional, grande segredo do sucesso humano. Por isso mesmo a busca da pessoa humana deve ser exatamente a construção de fantasias fortes que dêem sustentação ao ser enquanto tal. Obviamente, o que aqui se entende por fantasia não tem um sentido de algo falso ou inconsistente, mas, um mecanismo possível de sobrevivência.