O ser humano possui uma constituição bastante complexa; são várias dimensões que estão interligadas cujo equilíbrio é responsável pela estabilidade da personalidade. Alterações significativas na estrutura humana são responsáveis por inúmeros desajustes emocionais e afetivos que comprometem o bem estar psíquico e social dos indivíduos. A angústia resultante dessa desorganização interior reclama compensações que sejam capazes de manter o equilíbrio mínimo, do contrário, transtornos extremamente graves podem surgir. Os apelidos para os sintomas são diversos: Depressão, stress, transtorno bipolar, síndrome do pânico, etc. Tais sintomas têm sido tratados por profissionais que não têm competência para tal o que resulta, na maioria das vezes, num agravamento da situação ou num deslocamento do sintoma gerando uma falsa impressão de cura.
A esfera religiosa tem procurado, na medida do possível, dar uma resposta a tais situações. O sucesso de tal empreitada deve-se ao fato de o sujeito necessitar de uma fantasia que possa ajudá-lo a suportar as fortes pulsões interiores bem como os condicionamentos exteriores que, na maioria das vezes, não se consegue administrar com serenidade, tranquilidade e equilíbrio. Nesse sentido, até mesmo Sigmund Freud reconhece o papel da religião na pacificação interior do sujeito mesmo que ela seja fruto de uma compensação com contornos de castração.
A resposta religiosa para a angústia humana só se torna um problema quando ela tira do sujeito a responsabilidade pela travessia de uma fantasia inconsistente. Atravessar uma fantasia e construir uma outra mais real é uma atribuição do próprio sujeito. Negar-lhe esse protagonismo implica uma arriscada e irresponsável manobra que pode, ao invés de ajudar, complicar ainda mais a situação da pessoa que, a partir de tal manobra, abandona a condição de sujeito e passa a ser objeto de outrem numa perspectiva de alienação e opressão ideológica, afetiva e emocional.
O mecanismo da lavagem cerebral, extremamente usado pelas religiões, parece ser o que apresenta uma eficácia mais rápida, consequentemente é o mais utilizado. No entanto, vale ressaltar que é também o responsável direto pelo agravamento das neuroses. Histeria, obsessão e compulsão têm sido neuroses bastante diagnosticadas em pessoas religiosas, sobretudo naquelas que fizeram uma experiência brusca e radical de conversão. Quando a experiência religiosa é feita de maneira processual e equilibrada torna-se uma importante aliada da saúde mental, quando não, pode ser um elemento agravante. Não são raros os exemplos de neuróticos que se tornaram psicóticos a partir de condicionamentos religiosos. Portanto, é bom ir devagar que o homem e de “barro”.
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