Embora tenha havido polêmica durante a visita do papa Bento 16 a Israel e aos territórios palestinos, representantes do Vaticano, de Israel e da Autoridade Palestina disseram à BBC Brasil que a passagem do pontífice pela região foi "histórica e bem-sucedida".
O papa Bento 16 termina no dia 15, sua visita a Israel e aos territórios palestinos, definida pelo Vaticano como "peregrinação pela paz", com uma visita à Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, onde segundo a tradição cristã, Jesus foi crucificado e sepultado.
Durante os últimos cinco dias, o papa visitou Jerusalém, Nazaré e a cidade de Belém, e se encontrou com líderes políticos israelenses e palestinos. O pontífice esteve nos principais lugares sagrados para as três religiões monoteístas e realizou três missas a céu aberto, com participação de dezenas de milhares de pessoas.
De acordo com o porta-voz do Vaticano em Jerusalém, Wadi Abu Nassar, "a visita foi muito bem-sucedida". Nassar destacou que a visita trouxe "muita alegria aos cristãos da região e lhes deu esperança". "A visita de Sua santidade a esta região contribuiu para as relações tanto com os israelenses como com os palestinos e esperamos dar continuidade à aproximação com todos", disse Nassar.
Incidentes
O porta-voz do Vaticano não mencionou, em sua declaração à BBC Brasil, alguns incidentes que ocorreram durante a visita e que causaram desconforto no Vaticano.
O principal incidente ocorreu depois da visita de Bento 16 ao Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém. O discurso do papa durante aquela visita foi recebido com duras críticas por parte do próprio Yad Vashem, de líderes políticos e religiosos e também por parte da imprensa local.
O papa foi acusado de omitir, em seu discurso no Yad Vashem, a responsabilidade dos nazistas pelo extermínio de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial e também de "não ter pedido desculpas".
O Vaticano reagiu com uma nota incisiva, afirmando que "Sua santidade não é obrigado a pedir desculpas por algo que não fez e que havia mencionado os seis milhões de judeus exterminados no Holocausto no momento de sua chegada a Israel, já no aeroporto Ben Gurion".
No entanto, o governo israelense não compartilhou da opinião do Yad Vashem e afirmou que o museu "falou em seu próprio nome".
Ao resumir a visita do papa, o porta-voz do ministério das Relações Exteriores de Israel, Yossi Levy, disse à BBC Brasil que "apesar dos momentos delicados que ocorreram nesta visita, o governo israelense a considera um dos eventos mais importantes da história do país".
De acordo com Levy, a visita foi "especial e muito bem-sucedida". "Temos certeza de que, nesta visita, o diálogo entre Israel e o Vaticano avançou de maneira significativa", disse. "Este foi um encontro histórico com contribuições politicas, culturais e religiosas da maior importância."
João Paulo 2º
Embora o sentimento popular aqui em Israel seja de que a visita do papa João Paulo 2º, em 2000, teria sido "melhor e mais simpática", do que a visita de Bento 16, considerada "fria", analistas dizem que do ponto de vista do conteúdo, o atual pontífice fez pronunciamentos que indicam uma maior aproximação com Israel do que seu antecessor.
Em artigo no jornal "Haaretz", o analista Lior Kudner comparou os discursos feitos pelos dois pontífices. Segundo Kudner, em sua visita no ano 2000, João Paulo 2º afirmou que "devemos, sempre e em todos os lugares, agir na direção de expor a verdadeira face dos judeus e do Judaísmo, assim como dos cristãos e do Cristianismo".
Já o papa Bento 16, de acordo com Kudner, foi bem mais "direto" e disse que "a Igreja tem um total compromisso com a reconciliação entre cristãos e judeus". Para o governador do distrito de Belém, Salah Ta'mari, a visita foi um "sucesso absoluto".
"A Autoridade Palestina está muito satisfeita com a visita do pontífice a Belém", disse à BBC Brasil o governador, que faz parte da Autoridade.
"Apesar de nossas preocupações com questões de segurança, tudo transcorreu na mais perfeita ordem, harmonia, e devo mencionar principalmente a alegria que todos sentiram, principalmente o próprio papa". "Percebi que ele se sentiu seguro em nossa cidade pois percorreu Belém, durante toda a visita, com as janelas de seu carro abertas".
"Também percebi que ele gostou muito quando as crianças do campo de refugiados de Aida iniciaram a dança da debka [dança tradicional palestina] com um trecho da Quinta Sinfonia de Beethoven, sei que ele é pianista".
"Bento 16 foi honesto e justo, ele expressou solidariedade com os refugiados palestinos, condenou o Muro de Separação e defendeu a criação de um Estado Palestino independente", concluiu Ta'mari.
Fonte: Folha Online