Dom Helder Câmara: homenagens ao “Profeta da Paz”

Dom Helder Câmara: homenagens ao “Profeta da Paz” no centenário de seu nascimento


“Uma das grandes personalidades do século XX, homem de Deus, que tinha uma visão singular sobre o povo pobre brasileiro”. É assim que o arcebispo de Manaus (AM) e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Luiz Soares Vieira define dom Helder Câmara, que faria cem anos no dia 7 de fevereiro, se estivesse vivo. O arcebispo faleceu em 27 de agosto de 1999.

“Eu o conheci em 1984, quando me tornei bispo. Dom Helder era um profeta que falava empolgadamente, não dizia palavras de um intelectual, mas você percebia que era algo profundo, de alguém que tinha intimidade com Deus”, conta emocionado o arcebispo de Manaus. “Lembro-me de quando ele se hospedava em minha casa, por volta de 4h da manhã lá estava ele fazendo suas orações. Foi realmente um homem de oração, austero, de uma intelectualidade muito profunda”, sublinha dom Luiz.

O arcebispo de Manaus fala de dom Helder emocionado e relata que, quando vivo, o arcebispo de Olinda e Recife (PE) sempre foi um homem de coragem e de convicções fortes que “enfrentou e apontou caminhos para o Brasil”. Se perguntado sobre uma frase que resumiria dom Helder, logo o vice-presidente da CNBB responde: “Um profeta, homem que viu o mundo com os olhos de Deus”.

Para o arcebispo de Manaus, dom Helder realizou três grandes projetos na Igreja, “Ele foi totalmente comprometido com a Igreja, a serviço do povo pobre; da colegialidade episcopal, pois foi ele quem fundou a CNBB; e com o seu profetismo”. Dom Luiz, ao falar sobre o “Profeta da Paz”, como ficou conhecido dom Helder Câmara por seus trabalhos a serviço da justiça e de causas sociais, afirma que não o conheceu em seu “vigor de seu trabalho pastoral”, embora tenha conhecido um homem que tinha a essência de Deus na maturidade.

Apesar de dom Helder ter sido um bispo bastante querido no Brasil e no exterior, dom Luiz revela que havia pessoas que não aceitavam suas ideias: “Eu conheci pessoas extremamente contrárias a dom Helder e seus ideais. Elas não suportavam as ideias dele, mas, quando o conheciam pessoalmente se encantavam com seu modo de falar, seu carisma e até paravam para ouvi-lo. Creio que isso ocorria porque ele tinha uma fé profunda, que vinha do coração”. O arcebispo destaca ainda que “dom Helder é um modelo que a história da humanidade precisa conservar. Sua história e sua memória fazem ponte com a história do Brasil”.

Questionado sobre os trabalhos que dom Helder mais se preocupou em desenvolver, dom Luiz não hesita em dizer: “Seus escritos são espetaculares; sua eloquência é fabulosa, foi um homem de muita fé que vinha de uma espiritualidade que preservava um amor a Deus e ao próximo. Enfim, ele foi alguém que acreditou numa causa e lutou por ela até o fim”.

Dom Hélder Câmara nasceu em Fortaleza (CE) em 7 de fevereiro de 1909. Foi ordenado bispo, aos 43 anos de idade, no dia 20 de abril de 1952, pelas mãos de dom Jaime Cardeal de Barros Câmara, dom Rosalvo Costa Rego e dom Jorge Marcos de Oliveira, e nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro no dia 3 de março de 1952. Em  12 de março de 1964 foi designado para ser arcebispo de Olinda e Recife (PE).  Dom Helder ficou conhecido no mundo por suas pregações em favor de uma Igreja simples voltada para os pobres e a não-violência. Por sua atuação, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. Foi o único brasileiro indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz.

Comemorações
Amanhã a Câmara dos Deputados vai realizar sessão solene em homenagem ao centenário de nascimento de dom Helder Câmaradom Helder Câmara, no plenário Ulisses Guimarães, às 15h. No sábado, 7, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, preside missa solene em Recife (PE). A missa acontece às 16h, em frente à Igreja das Fronteiras, e será concelebrada por dezenas de bispos e padres, com a presença de fiéis.

Os Correios lançarão um selo que homenageia o centenário do arcebispo. O estampilho foi criado pela artista, Silvania Branco, por meio de um concurso dos Correios, ela venceu ao retratar a imagem do bispo, a silhueta da Igreja das Fronteiras ao fundo e dos pobres que sempre estavam por ali esperando a palavra e a ajuda do “bispo da justiça”.

Ainda no sábado, 7, as igrejas de Olinda e Recife tocarão seus sinos às 6h, 12h e 18h para homenagear dom Helder, e logo após a missa, será inaugurada no pátio das fronteiras, uma escultura do bispo.

Os eventos do centenário são organizados pelo Regional Nordeste 2 (Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco) da CNBB, Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), arquidiocese de Olinda e Recife, Instituto

Dom Helder Câmara (IDHEC), Governo do estado e Prefeitura do Recife, além de outras entidades.
Países como Alemanha, França e Canadá também prestam suas homenagens ao centenário de dom Helder. Na Alemanha, os tributos são coordenados pela Adveniat; na França, quem assume a organização é a Associação Dom Helder – Memória e Atualidade. No Canadá, por sua vez, o clero local é o responsável pelas homenagens.

 

Fonte: CNBB