A Igreja Católica e as pesquisas com as células-tronco.

A Igreja Católica é a favor das pesquisas com as células-tronco, sim! A nossa Igreja defende ferrenhamente a vida, desde a concepção até o seu declínio natural. Por isto ele é a favor das pesquisas científicas que buscam com muito afinco encontrar respostas favoráveis para a cura, sobretudo, das chamadas doenças degenerativas. A ciência é um dom de Deus. O ser humano, o cientista, não inventa nada, ele apenas descobre os segredos da maravilhosa obra de Deus, a Criação. A questão fundamental que se coloca para a ciência é a mesma que se coloca para todo e qualquer agir humano: a questão ética. Então, as pesquisas científicas devem obedecer a alguma exigência ética? A ciência pode usar quaisquer meios para alcançar um objetivo, mesmo que seja muito nobre como a cura das doenças degenerativas? A ciência tem limites ou é uma deusa que até os valores éticos e morais devem ser minimizados ou mesmo deixados de lado no seu permanente e inquietante desafio de dar respostas às dramáticas realidades do sofrimento humano? Querer curar uma vida humana adulta, enferma, manipulando uma vida humana nascente é justo, é ético? Quando começa mesmo a vida humana?

Estas perguntas precisam ser respondidas antes de nos posicionarmos sobre a polêmica questão do “uso de embriões humanos” na pesquisa com células-tronco. Ética é o sistema de valores que nos orienta para uma ação boa como meio e como fim. Fazer o bem e evitar o mal é a síntese do agir ético e moralmente correto. O princípio ético que orienta a pesquisa científica é este: a ciência não pode substituir a ordem natural da vida, mas ajudar o fenômeno vida a acontecer em toda sua exuberância. Este é o papel e o limite ético da ciência. Pois, manipular a ordem natural da vida é uma desordem de conseqüências incalculáveis para o bem estar de todos os viventes. Todo agir humano, para ser verdadeiramente ético, precisa ser bom como meio e como fim. Nunca um objetivo bom, alcançado por meios ruins, pode ser considerado ético ou moral. O mundo vive uma grande crise ética exatamente por que muitos, sobretudo os que têm mais poder e responsabilidade, não acolheram em suas condutas e procedimentos esta verdade edificadora da dignidade humana. Querer curar uma vida humana adulta, enferma, manipulando uma vida humana nascente não é justo, não é ético. Veja bem, encontrar a cura para as enfermidades é, fundamentalmente, o objetivo da ciência médica, e ela deve envidar todos os esforços possíveis para alcançar tal objetivo. Mas, por exemplo, querer atingir a meta (a cura) usando métodos ilícitos ou imorais (o uso de embriões humanos) ninguém de bom senso pode aceitar, penso eu. Mas por que mesmo? Respondo: porque o embrião é um indivíduo humano e, como tal, é sujeito de direito.

Todo mundo sabe que a partir da fecundação já temos uma vida em desenvolvimento: os 46 cromossomos formam a célula da vida que, no seu desenvolvimento natural, muda de forma e não de essência. A essência de uma pessoa adulta é a mesma de um indivíduo em fase embrionária. Portanto, destruir uma vida nascente para cuidar de uma vida nascida é, no mínimo, criminoso.

Alguém tenta argumentar a aceitação do uso de embriões humanos nas pesquisas com células-tronco dizendo que a vida só começaria a partir da 14ª semana de gestação, pois, só a partir daí se pode verificar o desenvolvimento do sistema nervoso central. Este argumento não se sustenta por quem conhece bem os avanços das ciências biológicas, porque o material genético que vai desenvolver o sistema nervoso já está presente na célula da vida desde o momento da fecundação, basta esperar um pouquinho e será verificável. Esta é a Palavra de Deus a nós anunciada: “Escolhe, pois, a vida!”


* Pe. Elias Ramalho Gomes, pároco de Santo Antonio. Artigo para o Informativo paroquial “Anunciai”.