não abandonem os pacientes incuráveis - 21/10/2008 - 16:51
A Medicina "altamente tecnológica", mas carente de senso de humanidade, pode acabar por considerar o doente como uma "coisa" e, portanto, corre o risco de não respeitar a dignidade inviolável do ser humano. Foi o que disse Bento XVI, na manhã desta segunda-feira, ao receber em audiência os participantes do congresso nacional italiano sobre o tema "Por uma cirurgia que respeite o doente".
"Um respeito - disse o papa - que deveria ver médicos e pacientes unidos por uma relação de confiança recíproca, capaz de alimentar no doente, a esperança da cura.
Quanto mais a Medicina aperfeiçoa e aprimora sua capacidade de fazer diagnósticos e de encontrar terapias apropriadas, mais corre o risco de perder contato com o objeto de seus cuidados que - justamente - não é um "objeto", mas sim um ser humano que, além dos medicamentos, terá sempre necessidade da "terapia" do afeto, da compreensão e do respeito: em resumo, de humanidade.
Essa "humanização da Medicina" foi a mola propulsora do discurso que o pontífice dirigiu, esta manhã, na Sala Clementina, no Vaticano, aos cerca de 300 médicos cirurgiões que participam do congresso "Por uma cirurgia que respeite o doente".
"A específica missão que qualifica a profissão de vocês, como médicos e cirurgiões - disse o Santo Padre - é constituída pela busca de três objetivos: curar a pessoa doente ou pelo menos intervir de maneira eficaz na evolução da doença; aliviar os sintomas dolorosos que acompanham a enfermidade, sobretudo quando em fase avançada; cuidar do doente em todas as suas expectativas humanas."
Todavia - observou o papa - se no passado "freqüentemente, bastava poder aliviar os sofrimentos do doente", pelos limites intrínsecos da ciência médica, hoje em dia, com o desenvolvimento da ciência e da técnica cirúrgica, se pode intervir com crescente sucesso nas vicissitudes físicas do doente. Isso, porém, abre caminho a um novo risco: o "de abandonar o paciente - sublinhou o pontífice - no momento em que se percebe a impossibilidade de se obter nele, resultados significativos".
Não se pode desconhecer, entretanto - ressaltou Bento XVI - que "se a cura não é mais possível, ainda há muito a se fazer pelo doente como, por exemplo, aliviar seu sofrimento e acompanhá-lo em seu caminho, melhorando, em tudo o que for possível, a qualidade de sua vida". E isso não é pouco - argumentou o papa - considerando que "cada paciente, mesmo o doente terminal, o doente incurável, traz em si um valor incondicional - uma dignidade a ser honrada e respeitada - que constitui o fundamento de toda e qualquer ação do médico".
Médico e paciente - acrescentou o Santo Padre - precisam estabelecer uma relação de confiança mútua, no âmbito da qual, tudo aquilo que é feito para obter a cura do doente - quer sejam intervenções salva-vidas, quer sejam meios ordinários de terapia - seja feito para fortalecer o doente e não para minar suas já frágeis condições físicas e psicológicas.
"É necessário estabelecer uma verdadeira aliança terapêutica com o paciente" - ressaltou o papa, exortando os médicos a usarem aquela específica racionalidade clínica que lhes permite descobrir as modalidades de comunicação mais adequadas, com cada paciente.
Fonte: Radio Vaticano
Local:Cidade do Vaticano