Em entrevista aos agentes da Pastoral da Comunicação, padre Elias Ramalho falou sobre os principais objetivos do ECC, a “migração” do Encontro para as comunidades e os desafios impostos pelos novos tempos. A entrevista foi concedida no final de julho deste ano, logo após a realização do 17º Encontro na Paróquia. Confira a íntegra da entrevista.
PASCOM: O senhor foi o responsável pela introdução do ECC na paróquia de Santo Antonio, estou certo?
Padre Elias: Sim, isso aconteceu no final da década de 90, durante minha primeira passagem pela paróquia.
PASCOM: Desde então, mudou alguma coisa no tocante à sua visão sobre o ECC?
Padre Elias: Não. Para mim, o ECC continua sendo um presente de Deus. Ele cumpre o mandado de Jesus: “Ide e fazei discípulos todos os povos” (Mt 28,19).
PASCOM: Como o ECC faz isso?
Padre Elias: Todo movimento ou serviço da Igreja tem como objetivo primordial evangelizar, ir ao encontro do povo e levar a mensagem de Cristo às pessoas. O ECC foi criado para evangelizar casais. São casais evangelizando casais. Aqui está a beleza e o tesouro maior do Encontro.
PASCOM: A paróquia realizou recentemente seu 17º Encontro. Qual foi a grande novidade neste ano?
Padre Elias: Este ano tivemos a graça de realizar o primeiro encontro voltado para os casais de uma única comunidade, no caso, a Comunidade de Nossa Senhora das Neves, no Bivar Olinto. Saímos do "centro" para a "margem", sem perder a característica da paroquialidade. Foi uma benção de Deus, certamente.
PASCOM: E quanto às demais comunidades?
Padre Elias: Nossa intenção é estender essa experiência para as outras comunidades. Assim, valorizamos o que há de particular em cada bairro. Por ora, vamos centrar nossas atenções na Comunidade de Nossa Senhora das Neves. Essa comunidade terá seu próprio núcleo de casais dirigentes, que irá coordenar as atividades do ECC naquele bairro. É um primeiro sinal de “independência pastoral” em relação á matriz.
PASCOM: O ECC tem sido alvo de duras críticas por parte de algumas pessoas, inclusive de alguns padres. Na sua opinião, falta alguma coisa ao ECC?
Padre Elias: Toda experiência missionária tem por característica o fato de não estar completa. Nunca se chega ao fim derradeiro da missão. Ela é sempre permanente. Acontece o mesmo com o ECC. O Encontro de Casais com Cristo, embora tenha alcançado notoriedade na paróquia, não está completo, nem acabado. O número de casais que passaram pela experiência do ECC cresceu bastante, mas isso não corresponde nem mesmo à metade daquilo que considero ideal. É grande ainda a quantidade de famílias que precisam ser evangelizadas.
PASCOM: O senhor acredita que a Igreja deve buscar então novas alternativas para evangelizar as famílias?
Padre Elias: Há pessoas que acham que o ECC já passou, acabou, mas estão enganadas. Passou, quem sabe, o “fogo inicial”, o ardor da experiência dos primeiros dias, e sinceramente não há nada de estranho nisso. O “amor primeiro” de que nos fala o evangelista (Ap 2, 4), esse continua intacto. Conforme está escrito em Mc 4, 2-20, na parábola do semeador, há sementes que caem em terreno fértil e outras que são “sufocadas” pelas pedras do caminho. O ECC não vai deixar de existir por conta das “pedras”. Nem há porque substituí-lo. Precisamos, porém, chegar aos casais afastados, nem que para isso que tenhamos que realizar um Encontro com quinze ou dez casais apenas, uma vez por ano. Não importa. O importante é dar continuidade à “pescaria”, lançar as redes (Lc 5,4).
PASCOM: O ECC é composto por três etapas, certo?
Padre Elias: Certo.
PASCOM: Em Patos, há encontros anuais, envolvendo cada uma delas. O ECC atingiu, finalmente, sua maturidade?
Padre Elias: Sim, o ECC, na diocese, chegou à maturidade. Precisamos, porém, intensificar o trabalho de 2ª e 3ª etapas, sobretudo desta última, que está em seus passos iniciais. O objetivo da 1ª etapa é, essencialmente, atrair os casais mais afastados para a Igreja. Não é ainda engajar o casal pastoralmente. Isso é tarefa da 2ª etapa, quando, então, os casais buscam conhecer os documentos da Igreja, a tradição, a doutrina etc. Nessa fase, o casal olha para a vida intra-eclesial, para a Igreja como “corpo” orgânico. Ou seja, para a Igreja, em si mesma. A 3ª etapa é mais complexa. O olhar se volta para o mundo. Aqui, o ECC atinge, como você disse, sua maturidade na fé. O objetivo é o engajamento social – como família cristã, como cidadãos responsáveis, buscando transformar as estruturas sociais injustas. Em minha opinião, esse é o grande contributo profético que o ECC deu e deve dar à Igreja e às famílias.