Flashback: sobre pessoas e livros

Em minhas muitas “idas e vindas” pela internet, em busca de informações biográficas sobre santo Antonio de Pádua, descobri uma preciosidade (que nada tem a ver com objetivo inicial da pesquisa, advirta-se): o prefácio da 14ª edição do livro “Os Carbonários”, do político, jornalista e escritor Alfredo Hélio Sirkis. Quando li esse livro, em 1991, confesso, fiquei impressionado. Na época, eu tinha 19 anos e cursava o primeiro ano de Direito. Lembro que naqueles anos estive próximo de acabar o namoro com Renata - hoje minha esposa - em diversas ocasiões por conta de minhas “convicções” políticas. Renata detestava o PT (e com razão, já que concorrer com uma “ideologia” era um absurdo), enquanto eu, orgulhoso, exibia, na lapela, um broche dourado com a bandeira do partido.

Na época, meus amigos e eu costumávamos varar as noites discutindo sobre fé, política, livros, assuntos que, hoje, certamente, despertam o interesse de poucos jovens. Sentávamos na calçada e simplesmente esquecíamos que havia tempo, casa, família...namorada. - “Alô, Renata… É, tava estudando pra prova...” Os livros passavam de mão em mão, numa espécie de ciranda. Dentre eles, o de Alfredo Sirkis, Os Carbonários; o na época polêmico O Caminhar da Igreja com os Oprimidos, de Boff; As Veias Abertas da América Latina, do uruguaio Eduardo Galeano; O Nome da Rosa, de Umberto Eco; Papillon, de Henri Charrière, e outros. “Nossa! Esse sujeito é demais”. “Lembra aquela passagem em que...”. - “Filho, largue isso, que sonho não enche barriga”, dizia, com voz sonolenta, minha mãe, chamando-nos à realidade, de quando em vez, preocupada também com meus estudos. E tudo isso embalado ao som de Legião Urbana e Mercedes Souza (“Yo tengo tantos hermanos que no los puedo contar. Gente de mano caliente...”).

Acho que minha paixão pela leitura vem desse tempo. Tempo de sonhos. Sonhos que ainda carrego. Sempre acreditei – e acredito – que a felicidade é a primeira de todas as utopias. Felicidade, para nós, naqueles anos, estava na simples companhia um do outro, no prazer de brincar com as idéias, as palavras e os livros, como quem brinca com as jóias de um tesouro raro recém descoberto na vasta ilha do conhecimento humano.

Reler o prefácio de “Os Carbonários”, dezessete anos depois de haver consumido avidamente o livro em três dias de leitura intensa e apaixonada, traz de volta sentimentos parecidos com aqueles experimentados pelo próprio Sirkis quando afirma haver visitado, depois do exílio, no final da década de setenta, os locais onde os fatos narrados no livro ocorreram – as mesmas “cores, cheiros e sentimentos muito presentes, candentes”.

Tá, quem sabe para vocês Os Carbonários seja só um livro, ou nem isso, e não existam cores, cheiros e sentimentos candentes associados à obra...

Mas, para os que curtem história, que adoram uma boa leitura, ou simplesmente para os curiosos, na esperança que se tornem futuros leitores, sugiro visitar a página de Alfredo Hélio Sirkis, na internet (http://sirkis2.interjornal.com.br/noticia.kmf?noticia=3783463&canal=258&total=7&indice=0), e dar um lida no pós-prefácio da 14ª edição do seu livro, publicada em 1998. Vale a pena! Boa Leitura.


* Alexandre José, membro da PASCOM de Santo Antonio.