“Estranhamos profundamente o veredicto do Tribunal e acreditamos que a sentença não está de acordo com o processo. Temos confiança na justiça, pois seria muito triste para o Brasil a continuação da impunidade”, afirmou dom Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus (AM) e vice-presidente da CNBB, a respeito do julgamento que absolveu o acusado de mandante do assassinado da Ir. Dorothy Stang. A afirmação foi realizada hoje, 9, durante entrevista coletiva à imprensa, na sede da CNBB, em Brasília, da qual participou, além de dom Luiz, o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa.
Ao final da reunião do Conselho Episcopal Pastoral, a Presidência da CNBB divulgou uma nota por meio da qual “manifesta indignação ética pelo resultado do Tribunal do Júri, em Belém, absolvendo, pela maioria dos votos dos jurados, o acusado” e pediram às autoridades do Tribunal de Justiça do Pará para que “recuperem a justiça, erradicando a impunidade que estimula a violência”. A reunião do Conselho Episcopal Pastoral ocorreu de 6 a 8 de maio, na sede da Conferência, e reuniu a Presidência da Conferência e os presidentes e assessores das dez comissões episcopais pastorais da CNBB.
Na referida entrevista, falou-se também sobre as ameaças que bispos, religiosos e leigos da região Norte do país têm sofrido. A Presidência da CNBB lembrou que nesta semana houve uma audiência pública na Câmara dos Deputados sobre os bispos do Estado do Pará ameaçados de morte. São eles: o bispo de Xingu, dom Erwin Kräutler; o bispo de Abaetetuba, dom Flávio Giovenale e o bispo de Marajó, dom José Luís Azcona Hermoso. Dom Luiz ressaltou que apesar da proteção policial, como tem recebido dom Erwin, é necessário ir à causa do problema. “Agradecemos as autoridades, porém insistimos que o problema é muito maior”. O arcebispo de Manaus disse ainda que houve uma boa cobertura da imprensa sobre o caso, o que de alguma forma pode intimidar aqueles que ameaçam.
Em abril, durante a 46ª Assembléia Geral da CNBB, os bispos do Brasil emitiram uma nota de solidariedade aos bispos ameaçados de morte, na qual dizem ser solidários com eles e com as pessoas que eles defendem, como os índios, crianças e adolescentes que são explorados sexualmente e mulheres, vítimas do tráfico de seres humanos. “Apoiamos também seu empenho na defesa do meio ambiente que a ganância devasta com nefastas conseqüências para a vida humana. Suas lutas são, portanto, as nossas lutas, seus sofrimentos são os nossos sofrimentos”, afirmam os bispos na nota.
Terra Raposa Serra do Sol
A Presidência da CNBB falou ainda sobre o conflito experimentado pelos povos indígenas na Terra Raposa Serra do Sol.
Dom Dimas lembrou que, também durante a Assembléia da CNBB, foram lançadas duas notas. A primeira, de apoio à iniciativa do Governo, chamada de Operação Upakaton 3, para a retirada dos ocupantes não indígenas da região. A segunda nota manifestou solidariedade aos indígenas da Terra Raposa Serra do Sol, por causa da suspensão dos atos de desocupação da terra indígena , por meio de uma medida liminar do STF, proposta pelo Governo de Roraima. “Em nosso entendimento, a demora da retirada definitiva dos não índios que insistem em permanecer na terra homologada tem contribuído para o agravamento do quadro de violência a que estão submetidos os povos Ingarikó, Macuxi, Wapixana, Patamona e Taurepang”, diz a nota.
Dom Luiz acrescentou que a CNBB endossou um abaixo-assinado elaborado por quase quarenta entidades, de apoio à retirada dos invasores da Terra Raposa Serra do Sol e à presença de Estado democrático de direito em Roraima. “Acreditamos que a reserva deve ser homologada”, disse o arcebispo.
* Fonte: CNBB.