A Bíblia não é um livro decorativo - 30/09/2009 - 13:26
Sempre imagino a Bíblia como um grande prédio de 73 andares. Cada andar é um livro, mas eles não estão dispostos em fila, ordenados; antes, são um pouco confusos para quem tem familiariedade. Nós recebemos um molho com 73 chaves; cabe a cada um procurar a chave certa para abrir cada andar. Não é fácil encontrar a chave certa mas, uma vez encontrada e familiarizada, é a coisa mais fácil de abrir.
Hoje em dia, nós temos a sorte de conhecer bem a palavra de Deus por todos os lados. É necessário ter uma firme convicção que não pode ser abalada por nada e por nimguém: "é Palavra de Deus, é Deus quem fala", e chega até nós através dos homens escolhidos por Deus, que são os profetas. Eles e elas, numa atitude de docilidade e de escuta à voz do Espírito, através das circunstâncias, dos acontecimentos e dos "gêneros litérarios"- isto é, poesia, romance, literatura, contos -, vão transmitindo o que Deus quer revelar aos homens errantes, inseguros.
Há quem diga que todos os gêneros litérarios possíveis se encontram na escritura. A Bíblia fala de tudo, mas não tem a finalidade de divertir, nem tampouco de filosofar sobre a vida, nem de apresentar soluções fáceis aos grandes problemas da humanidade. Ela quer instalar dentro de nós o verdadeiro e reto sentido da consciência, para saber escolher o que é reto e recusar o que está errado e fere dignidade de Deus e da humanidade.
Há uma Palavra de Deusrevestida com tanta humanidade e existência histórica, distante da nossa maneira de pensar, que deve ser desvestida e re-vestida com veste nova, mas seu conteúdo não pode mudar.
Deus é eterno, o que ele diz vale em todos os tempos e para toda a humanidade. Não pode mudar. Seria curioso um Deus movido pelo vento dos sentimentos humanos, que hoje pensa de uma forma e amanhã de outra. A grande diferença entre "deuses"e Deus está nisto: os deuses sõ obras de mão humanas, e Deus é quem nos faz, nós somos obra dele.
A Bíblia não é apenas o livro da fé, sim, o livro mais importante de toda a humanidade. Aliás, todos os livros sagrados são puros, santos, e devem ser visitados através de uma lenta leitura e releitura, que não pode ser sempre literal, mas que deve ser inserida no contexto vital do nosso hoje, sem perder a sua sacralidade.
Na minha experiência humana espiritual, eu tenho bebido água boa também em outras fontes religiosas, como os livros do hinduísmo, xintoísmo, budismo, livros dos míticos muçulmanos ou de outros mestres das das grandes eligiões ou pseudo-religiões. Há em todos os que buscam a verdade "um não sei quê" que nos une e nos irmana. Se não tivermos cuidado, podemos correr o risco, todos nós, pobres e humildes letrados e teólogos, sacerdotes e leigos, professores, semi-analfabetos e analfabetos, de fazer do nosso conhecimento bíblico um "status", um vedetismo. É claro que não é este o caminho a percorrer.
A Bíblia e seu conhecimento não podem ser objeto decorativo para ser colocado na estante da casa ou em cima de um belíssimo "porta-livros"para que todos a vejam.
a Bíblia deve ser alimento cotidiano. É preciso, todos os dias, nos movimentar por este grande prédio com uma certa ordem. Ler e meditar a Bíblia é tirar desse prédio "coisas novas e velhas", que servem para o nosso dia-a-dia.
Há uma assimilação profunda do contéudo da Bíblia que, as vezes, não se percebe. Por exemplo, na Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU, encontramos um substrato bíblico impressionante. Só se pode considerar o outro igual com os mesmos direitos e deveres quando se olha o outro como imagem de Deus vivo.
Depois de quarenta anos lendo a Bíblia, ainda não me cansei e nela encontro sempre coisas novas, e desejo cada vez mais conhecê-la melhor para vivê-la melhor. É o meu livro preferido, onde eu me encontro com todo o meu ser humano fragilizado, meus pecados, e com os sonhos mais belos que se agitam dentro de mim mesmo.
Não consigo alcança-los e continuo sonhando que um dia, com agraça de Deus, chegarei lá.
Artigo transcrito do CatolicaNet
Fonte: O Lutador
Local:Belo Horizonte