I º. Congresso da Pastoral Familiar do Regional NE 2 da CNBB Palestra de Dom Aldo Pagotto

I º. Congresso da Pastoral Familiar do Regional NE 2 da CNBB

Palestra de Dom Aldo Pagotto

1. Introdução
Convocados ao presente congresso, invocamos as luzes do Espírito Santo, a fim de
compreender a missão que o Pai nos confia e a força da sua graça para defender e promover a
instituição familiar. A Família é chamada a ser educadora na fé e de bons cristãos e honestos
cidadãos/ãs. A Família deve ser formadora da índole humanitária e cristã. Segue-se daí que a
Família deve colaborar, solidariamente, na promoção do desenvolvimento integral das pessoas,
especialmente dos empobrecidos, através da sua inclusão social, para que todos - com amor e
justiça - tenham melhores oportunidades.
Na qualidade de membros pró-ativos da Pastoral Familiar, frequentemente, nos
encontramos para orar, meditar e discernir o que o Senhor quer de nós. Vimos ao presente
congresso porque Ele nos quer que integremos, articulemos e mobilizemos nossas forças nas
atividades, que convergem para a defesa e a promoção da vida e da família.
Entre os maiores desafios, encontra-se a urgente necessidade de recuperar no
relacionamento íntimo das nossas próprias famílias os valores éticos e morais de perfil cristão,
pois que, a cada dia são colocados em dúvida e postos em suspeita pela sociedade de consumo.
Não obstante experimentemos uma grande desproporção de forças, o Senhor nos pede: -
enfrentem enormes desafios, mesmo disponíveis, mas, reconhecendo a desproporção de nossos
recursos humanos e da nossa competência.
No presente congresso, nós participaremos das oficinas de dons. Após o congresso, como
fruto, precisaremos nos exercitar na arte do diálogo permanente para que haja uma colaboração
efetiva entre pais e filhos na construção do próprio núcleo familiar; como incluir os outros,
diferentes, como aceitar ou administrar determinados comportamentos que nos causam espécie...
Como ajudar novos casais a planejar o lar em recíproca confiança e generosidade, sem
cair nas malhas do consumismo e da mediocridade... Incluímos a tarefa de orientação
indispensável para casais de segunda união, hoje em grande número. Muitos casais formaram
novas famílias. Trata-se de filhos e filhas de Deus e da Igreja, que não pode abandoná-los à
própria sorte.
Enfim, abordaremos temáticas que correspondem às tarefas, à missão do resgate da
família como principal capital que é o capital humano, o patrimônio da humanidade!
2. Inversão de valores: fatos, desafios.
O matrimônio cujo valor é uma condição para formar uma família não ocupa o
sentimento e o pensamento central na busca da realização das pessoas. Nossa sociedade rompeu
com a referência sagrada do matrimônio, em vista da formação da família de identidade cristã!
Na sociedade secularizada os valores são outros.
Prescinde-se ou mesmo se nega o caráter da fé divina e da revelação judaico-cristã sobre
o matrimônio e sobre a família. Surgem novos arranjos familiares, com conseqüências
imprevisíveis. Um exemplo desastroso é a ausência dos referenciais e a indefinição dos papeis
específicos do pai e da mãe, respectivamente. Isso gera práticas equivocadas na educação dos
filhos. Hoje é comum se delegar responsabilidades para outros, como se faz com trabalhos
terceirizados.
Surgem novas formas de ser família. Desde a família mono parental até casais homo
afetivos, exigindo todos os direitos de equiparação a uma família, incluindo a adoção de uma
criança. Enfim, surgem dúvidas e rejeição aos princípios fundamentais da instituição familiar.
Relativiza-se a identidade das pessoas, à mercê de influências plurais. Não há como controlar
novos modelos profusos, multiformes, confusos e precários a respeito do casamento e da
formação de uma família.
Conforme os princípios evangélicos, transmitidos pela Tradição e Magistério da Igreja
em seu ordenamento jurídico-canônico, o matrimônio é contrato de amor pactuado entre um
homem e uma mulher. Seu caráter é monogâmico, indissolúvel, como compromisso estável e
permanente, salvaguardando a santidade do casal e da família na unidade integral da mesma.
O caráter sagrado do matrimônio hoje se torna matéria discutível, como se fosse uma
forma de cultura, relativizada, como tantas outras expressões culturais. Compara-se o
matrimônio ao instinto animal de certos casais de bichos. Uns são monogâmicos e outros, não. E
daí? (diz-se por aí)... A crítica debochada tende à afirmação de que o matrimônio, como amor
estável, fiel, monogâmico, é prática cultural ultrapassada, impraticável pelas novas gerações.
O que esperar das novas gerações, pois hoje adolescentes são induzidos, a iniciação
afetiva e sexual precoce. Basta que usem o profilático para evitar gravidez ou doenças (DST). O
contexto permissivista prescinde de quaisquer referências éticas ou morais cristãs. Ético é o
prazer de momento e a todo custo, mesmo sem maiores compromissos com parceiros ou
parceiras.
O “ficar” é expressão típica da liberdade sexual, e com esta, a libertação de toda
disciplina. Para um adolescente, esse aprendizado prático o induz, inevitavelmente, a independer
de autoridades. Se não houver um pai ou uma mãe por perto, orientando seus filhos, não se sabe
o que seria deles.
O desafio para a Igreja é Evangelizar a família, diante de uma nova mentalidade que
tenta desestabilizar não somente a família, mas, toda instituição. Por outro lado – não é verdade
que as pessoas aceitam, engolem todos os exageros dessa visão do “liberou geral”. Há uma ação
deletéria por parte de grupos de pressão - entre outros, feministas e gays (que exigem
legitimação de práticas equivocadas como se fossem direitos reais). Por outro lado há quem se
propõe a esclarecer e formar a opinião pública – e a Pastoral Familiar abraça essa causa com
espírito missionário!
Se há uma tentativa de impor um estilo de vida pagão, a busca da felicidade individual
sem maiores compromissos éticos e também sociais, nem por isso a Igreja renuncia ao que
ordena o Mandamento da Lei de Deus, estabelecendo critérios de valores, consubstanciadas
juridicamente na defesa e promoção da vida e da família.
O que nós precisamos é de melhor comunicação sobre as atividades que desenvolvemos,
bem como de melhor articulação entre as forças vivas da PF, através dos movimentos e serviços.
O que é preciso é nos preparar da melhor forma, sobre os princípios e os valores do Evangelho e
nos dispor para esclarecer as pessoas, integrando fé e vida.
Mesmo que reine um contexto de grandes ambigüidades nas formas de pensar e de agir,
atingindo-nos, como cristãos, por outro lado isso acontece porque muitos batizados não são,
suficientemente, evangelizados e ainda, nem são chamados para serem evangelizados e se
tornarem bons evangelizadores.
Se há uma postura de apostasia da fé cristã, por outro lado nós estamos nos dispondo para
assumir um trabalho de formação humana e cristã, envolvendo as pessoas e as famílias no
mesmo compromisso de transformação!
Não se pode negar a crise antropológica, anterior à crise do estilo de vida baseada na fé
cristã. Não é raro se ouvir um praguejamento contra Deus e o mundo, dizendo que “o homem é
uma experiência que não deu certo” ou que civilização cristã só resultou em atraso para a
humanidade.
Outros fazem estrada pelo mundo das ideologias. Alguns acreditam na restauração da
utopia socialista contraposta ao totalitarismo capitalista. Chega-se a afirmar que é inevitável a
substituição de modelos familiares, pois a primeira forma de opressão e de exploração acontece
na família, porque o homem domina a mulher e a subjuga pela força do trabalho. Não se deve
definir papel de pai ou de mãe.
Aí entra ainda a questão de gênero que leva os jovens a constituir grupos de relações, sem
discriminar a opção sexual, onde prevaleça a opção subjetiva. A diferença sexual está na mente
de cada um. Gênero - homem ou mulher, relações hetero ou homo, não depende da natureza de
você ter nascido homem ou mulher. Isso seria um condicionamento cultural. Cada indivíduo
escolha o que quer ser.
A legislação dos países está mudando, conforme essa tendência. O matrimônio pode ser
equiparado a uma união de fato, consensual. No caso, o matrimônio e a família estarão sendo
desconstruídos. Organismos internacionais formam redes de divulgação da nova era do
pensamento e do comportamento livre, descomplexado.
Outros descarregam toda sua revolta nos parâmetros do cristianismo. Formas religiosas
seriam um bloqueio psicológico, que impede a construção de “um outro mundo possível”, desde
que não surgissem regras morais instituídas nem religiões institucionais, nem a idéia de um único
Deus ou de revelação de fé.
Ademais, hoje retorna com veemência a ideologia agnóstica sobre o Estado laico,
afirmando com discursos teóricos a liberdade e os direitos individuais. Tudo bem. Mas se
carrega a tinta com mistificação do subjetivismo. Há muitos direitos individuais para poucos
deveres pessoais e coletivos. Enquanto a família é desconstruída estão aí conseqüências da
violência generalizada.
O que saber? O que fazer? O que esperar? (dizia Kant) da vida e da família? Para onde
vamos com tantos desafios e perspectivas incertas sobre a instituição da família?
3. Princípios e valores
Fronte ao fenômeno da modernidade que parece inexorável, qual é a missão da Igreja, da
Pastoral familiar, senão Evangelizar, sendo fiel à vocação de defender e promover a Família.
Assim fez João XXIII, Paulo VI, João Paulo II, em sucessivos documentos do Magistério e pelo
posicionamento constante de esclarecer o papel da Família, como Comunidade de vida e de
amor, escola de comunhão, entre as pessoas, tecido vital do qual decorre a formação da
sociedade...
Família: volta a ser o que tu és, nascida do amor do Pai! A família não vem pronta.
Nem um filho vem com manual de instruções para os pais. A Família é um dom e uma missão
recebida das mãos do Pai criador. Somente em Jesus Cristo, revelador do Pai, nós encontramos o
caminho a seguir, a verdade a ser experimentada e a vida como oferta de amor e compromisso
transformador.
A Igreja ratifica no sacramento do matrimônio a santidade da vida querida por Deus,
desde o inicio (Gn. 2, 27; Mc c.10; Mt. c.19; Ef 5, 20ss). A finalidade do matrimônio tem em
vista o bem do casal e a geração e educação da prole. Tal missão não pode ser substituída ou
negada, relativizada, esvaziada por ideologias falsas ou fragilizadas pela insegurança das dúvidas
típicas da mudança de época civilizatória.
A doação, a oblação do homem e da mulher, no amor e fidelidade expressa o pacto de
amor com que Cristo ama e se doa à humanidade, em sua Igreja, isto é, o seu Corpo. No gesto
permanente recíproco de doação dos esposos encontra-se a presença de Jesus Cristo em seu amor
salvífico.
Evidentemente esse amor deve ser alimentado, incentivado, admoestado, assim como a
Palavra e a Eucaristia alimentam a vida da Igreja, - presença de Cristo, apresentando o seu
sacrifício e o penhor do seu amor que se faz Comunhão... (corpo doado, sangue derramado para
a reconciliação do mundo).
Se esvaziarmos o significado salvífico do sacrifício redentor presente na vida de
recíproca doação do casal, em vista dos filhos, esvaziamos também o significado do que o
matrimônio é e representa, a santidade da vida.
O caráter sagrado do matrimônio reside na consubstanciação do amor do casal, - amor de
Deus que se manifesta nas realidades humanas, amor que deve ser orientado, permanentemente,
para a doação recíproca, monogâmica, fiel, indissolúvel. É desse amor, o amor de Deus do qual
somos constituídos.
4. O matrimônio é missão que nos consagra à Igreja doméstica
Pelo sacramento do matrimônio, homem e mulher, batizados, são participantes do múnus
(da missão) de Jesus Cristo na qualidade de profeta, sacerdote e rei pastor. No sacramento do
matrimônio é Cristo mesmo que se doa ao casal e à família, e, através da família, à sociedade! O
dom do sacramento do matrimônio santifica o casal, - imagem da semelhança divina - em vista
de um ser para o outro, canal de graças, para a formação da Igreja que se faz presente no lar, a
igreja doméstica, e na sociedade, porquanto santifica as relações sociais.
Através do testemunho de vida, ambos, com a vida santificada em Cristo, fazem o dom
de si. Tornam dom mútuo. No dom da união em Cristo, o Espírito lhes é concedido. O espírito
fecunda a comunhão de vida de amor – eis que fazem voto de fidelidade a Deus, de onde haurem
a força do amor ao próximo. Amando a Deus, na fidelidade recíproca, haurem forças para ir ao
encontro dos que mais precisam.
Não basta ter uma família. É preciso ser família, criando as condições para tal, com a
graça de Deus, com perseverança na fé e testemunho de boas iniciativas! Ser Família é dádiva
divina. É graça de Deus! Para ser família é preciso corresponder ao chamado divino; abraçar a
missão que Ele nos dá para ser uma Igreja doméstica, uma escola de aperfeiçoamento mútuo,
onde todos e cada um dos seus membros aprendem a se amar e se respeitar mutuamente,
incluindo a contínua reconciliação.
O objetivo do presente congresso é reforçar a organização da Pastoral familiar. A Igreja
nos incumbe de nuclear e organizar novas lideranças, para enfrentarmos situações concretas onde
vida é negada e a família é ameaçada. Precisamos nos capacitar para enfrentar desafios,
capacitando muitas lideranças, pois, trata-se de atuar numa sociedade que está desumanizada,
voltando às aberrações do materialismo pagão.
Trata-se de recuperar os relacionamentos humanitários de cunho cristão, tal como Nosso
Senhor Jesus Cristo nos ensina no seu Evangelho e pede que a sua Igreja ensine também. O amor
de Deus e o amor recíproco se consubstanciam na família, santuário da vida solidária, do amor
fraternal e respeitoso.
5. O significado antropológico e eclesial no dom sacramental
A mútua pertença dos esposos, um ao outro, em Jesus Cristo, os torna participantes da
aliança que Cristo sela definitivamente com a humanidade, através da IGREJA. Por sua vez a
Igreja é o sinal sacramental de Cristo operando na humanidade, na sociedade. O elo conjugal dos
cristãos constitui-se a `cellula mater´ do tecido social.
Eis porque é indissociável o matrimônio da geração e educação da prole, - ou seja, em
vista do estabelecimento e conservação da unidade e da caridade na sociedade!
O autêntico amor esponsal é assumido por Cristo, junto ao Pai, no Espírito. (Glória ao
Pai, pelo Cristo, no Espírito).
A família cristã se torna colaboradora na obra de salvação de Cristo, pois que os esposos
são igreja em miniatura, uma pequenina comunidade. A santificação da família é a missão
primordial dos pais e dos filhos entre si. Essa união vivida na reciprocidade expressa bem como
a família, fonte de vida sacramental, santuário da vida e do amor, escola de evangelização cuja
missão provém da paternidade divina, - colabora na santificação de toda a realidade temporal.
6. Para grandes males, grandes remédios
O clima, que se respira na sociedade de consumo, leva as pessoas a perceberem que nem
sempre elas são amadas e valorizadas pela sua dignidade. Muitas pessoas são avaliadas como
artigos, que se comercializa que se consome ou que se usa qual peça substituindo outra. No seio
familiar muitos de nós vivemos bons relacionamentos, que hoje se fragmentam, tendendo ao
desaparecimento, caso não os cultivarmos.
Às novas gerações, cabe-nos anunciar constantemente pela palavra e pelo exemplo os
valores humanos e cristãos. Trata-se de valores insubstituíveis: o diálogo, o sacrifício pelos
outros, o serviço recíproco gratuito e generoso, o testemunho de amor, mesmo no dever de
corrigir erros dos filhos, o saber perdoar, jamais confundindo como vingança ou violência o
dever de restaurar a verdade, a ordem, a harmonia, a necessidade da disciplina firme e serena,
impondo limites para garantir aos filhos o devido respeito e valorização para com os pais...
Os relacionamentos familiares seguem um processo construtivo, repleto de pequenos e
grandes sacrifícios, constantemente alimentados pelo santo temor de Deus e de um respeito
mútuo. Sejamos formados para desempenhar papéis inconfundíveis, aceitando a definição de
papéis e distribuição de funções, incluindo o perfil e a competência na gestão da família.
A indefinição de papéis e tarefas provoca confusão, ambigüidade, frouxidão,
instabilidade e por fim a destruição dos relacionamentos e da unidade familiar. Diante das
estruturas sócio-econômicas, culturais e religiosas, os vários modelos de famílias se obrigam a
criar novas condições de sobrevivência e de busca do sentido da vida. Como a PF pode ajudar as
pessoas e as famílias nesse desafio tão grande?
Se pouco a pouco desmoronam os parâmetros estáveis da organização familiar e pouco
resta dos princípios básicos, sustentáculos da família, afirmemos o verdadeiro amor como dom,
devendo ser constantemente purificado das paixões desordenadas (não amor eterno enquanto
durar).
Não nos calemos nem sejamos omissos diante do fato consumado de relacionamentos
individualistas, que induzem as pessoas a se divertir sem compromisso, tornando-as descartáveis
depois de usadas; - nem permitamos que os verdadeiros sentimentos se pervertam em interesses
oportunistas, deturpando a razão, negando o bom senso, fazendo a vida se tornar superficial e
medíocre.
Cabe-nos a apologia dos valores humanos e cristãos, prestando-nos à formação de
opinião. Chegando-se à inversão ou à indefinição de papeis. Filhos crescendo soltos por aí, sem
definição de limites, sem lhes incumbir obrigações coerentes. Façamos previsões orçamentárias
para o sustento da família.
Não deixemos o supérfluo perdulário tomar o lugar do essencial. As crianças não sejam
aliciadas desde pequenas pelo espírito consumista. Em suma, há uma série de referenciais
familiares estabelecidos, aceitos e respeitados, não obstante a contestação ou a revolta de alguns
grupos de pressão.
7. Pistas de ação: da comunicação e articulação da Pastoral Familiar com outras
Pastorais e serviço de evangelização e promoção humana, bem como políticas públicas de defesa
e promoção da vida e da família: [Pressupostos]
1º. Pressuposto: que as Pastorais formem seus membros na Doutrina cristã e na vida
sacramental, condição e suporte para atuar socialmente. A iluminação bíblico-catequética deve
orientar toda ação Pastoral no rumo certo. Quem não entende das coisas de Deus não sabe o que
fazer com o povo precisado de solução para seus graves problemas. Sem a espiritualidade como
logística indispensável, ninguém persevera e pouco se vai avante.
2º. Pressuposto: a formação específica para bom desempenho de serviço voluntário, que é
específico de cada Pastoral. Isso comporta capacitações e instruções atualizadas. Os serviços
pedidos pela Igreja requerem amor, generosidade, aceitação para trabalhar em espírito de equipe,
capacitação das pessoas que adquiram competência profissional nos ramos específicos;
3º. Pressuposto: uma mínima garantia administrativa e financeira para que cada Pastoral
funcione bem. Cada ação evangelizadora e pastoral específica exige garimpagem de recursos
humanos, técnicos e financeiros! Estes recursos nem sempre são bancados pela Diocese ou pela
Paróquia.
A Conferência de Aparecida sublinha fortemente o caráter dos discípulos missionários,
pressupondo uma Formação suficiente para tal e a concretização da visitação às Famílias! Tratase
de uma formação na ação, - de uma formação sistemática de inspiração bíblico-catequética,
indo ao encontro de pessoas e situações de grande precisão espiritual e material.
A respeito da inclusão social e da promoção humana (Caridade cristã), a Igreja entende
que não absorve nem se confunde ou se identifica com projetos políticos (ou de um partido
político). A Igreja reconhece e cobra do Estado que se desempenhe em sua missão, que lhe é
própria, a promoção do desenvolvimento integral, que comporta os valores humanos e princípios
de matriz cristã.
Porém a Igreja não deve se omitir ou se alienar, quando pode fazer parte da solução dos
graves problemas sociais, sobretudo quando estão em jogo - a vida e a família. Para dar conta
dos apelos, dirigidos em tantas direções, a Igreja necessita formar agentes voluntários em grande
número e qualidade.
Algumas intuições para a comunicação e articulação da Pastoral Familiar:
Pastoral Familiar e Pastoral da Criança
“Salvar vidas” é o trabalho da “PC”, surgida há 27 anos! Nossa missão é preservar a
saúde e a educação da criança de 0 a 6 anos, desde o período de gestação. Visitamos as famílias
pobres, transmitimos noções e práticas concretas de prevenção da mortalidade e profilaxia de
doenças evitáveis (vacinação, nutrição boa e barata), inserção social das mães
(empreendedorismo, geração de ocupação e renda, creches). Se o objetivo da PC é a mãe e a
criança, nosso alcance envolve a família toda!
Pastoral Familiar e Pastoral da Pessoa Idosa [Estatutos]
Com metodologia semelhante à PC, trabalhando em regime de voluntariado, voltandonos
aos cuidados essenciais para com a pessoa idosa, envolvendo a família - a partir de grandes
valores do patrimônio familiar e da dignidade humana. A PPI pratica hábitos dinâmicos do
envelhecimento saudável, ao tempo em que reprime os maus tratos, incluindo todo tipo de
exploração financeira, por parte de familiares, ou de abusos e pressões que deprime e provoca
sofrimentos morais aos idosos.
Pastoral Familiar e Pastoral do Menor (criança e adolescente)
A complexidade das situações de risco requer da Igreja sua participação solícita nas
políticas de reeducação e reabilitação para a cidadania plena, contando com o envolvimento da
família. Milhares de crianças e adolescentes vivem soltos. Muitos pais não estão nem aí. O que
nós, como PF podemos organizar é a nossa representação e participação efetiva, (segundo o
ECA) nos Conselhos Tutelares, Conselhos de Saúde e de Educação, Comad’s e outros conselhos
das cidades locais.
Pastoral Familiar e Pastoral da Sobriedade
Trata-se da prevenção ao uso de drogas e de eventual recuperação de adictos, exigindo
também a restauração de vínculos familiares, por vezes quebrantados ou inexistentes. Os
projetos de políticas de saúde pública só funcionam se houver o envolvimento da família e a
reabilitação pela profissionalização, pelo ganha pão, como em todas as outras medidas
profiláticas de prevenção ou de repressão.
Note-se que nas (recentes) conferências sobre segurança pública, o denominador comum
dos 7 eixos programáticos apontam para a recuperação dos laços familiares - como medida
acertada para diminuir e erradicar tantas formas de violência, - qual pandemia que vitima pobres
e ricos, alista jovens ou crianças no narcotráfico...
Pastoral Familiar e Pastoral carcerária
Trata-se de alguma forma de assistência às famílias de apenados, geralmente miseráveis
ou também envolvidas na criminalidade. A Pastoral da Criança desenvolve trabalhos de
assistência a mães apenadas, que têm crianças de 0 a 6 anos, assistindo-as no presídio ou creche.
Pastoral Familiar e Catequese (com crianças, adolescentes, jovens e com adultos)
Abre-se um leque enorme de possibilidades para que a Pastoral Familiar se envolva nas
formas diferenciadas de trabalhar a Catequese, - em todos os níveis e idades, - uma vez que, sem
boa formação cristã não há como as lideranças perseverarem nos trabalhos evangelizadores e
pastorais.
Segundo as novas perspectivas da catequese renovada, é preciso integrar a formação
cristã (não apenas teórica) com a vivência da fé acompanhada em uma comunidade cristã. Ora, a
família é o espaço privilegiado para a experiência de fé e vivenciados valores cristãos.
Os pais são os primeiros catequistas dos filhos, em quaisquer fases da vida, pois
catequese não se limita a transmissão doutrinal, mas acompanha a vivência dos valores
familiares e sociais, interpretados como sinais do amor de Deus e serviço ao próximo.
A Catequese comporta a mistagogia cristã, a celebração do Mistério de Cristo que
santifica a nossa vida e os nossos relacionamentos, incluindo o trabalho e a construção da
história. É preciso reconhecer as iniciativas tomadas nas diversas instâncias pastorais onde se
ministra a formação cristã, a catequese, - seja com crianças, pensando na sua perseverança (pois
fica solta, sem rumo a maioria de pré-adolescentes e adolescentes).
Pastoral Familiar (Setor família) e Pastoral da Juventude (Setor juventude)
Da mesma forma é preciso articular trabalhos comuns entre a PF e a PJ, o setor família e
o setor juventude, levando em conta o desafio dessa articulação naquilo que comporta iniciativas
tomadas em conjunto, evitando o desperdício de forças.
Há movimentos juvenis nascidos dos movimentos familiares, com suas especificidades,
como há expressões da pastoral de juventude, cuja organização e metodologia são diversas da
pastoral familiar. Assim como existe o Setor Familiar, existe o Setor Juventude, com
especificidades. Muitas atividades pensadas e feitas em parceria facilitariam a comunicação e
articulação entre as gerações, avós, pais, filhos, netos.
Questionemos “o que fazemos” e o que podemos fazer melhor, de comum acordo,
articuladamente. As atividades pastorais exigem compromisso de perseverança, sobretudo de
adolescentes e dos jovens. Muita coisa pode ser feita em conjunto, trabalhando em espírito de
equipe, evitando que a pastoral seja de uma pessoa ou de um grupo fechado.
Pastoral Familiar – Pastoral da Saúde – Pastoral da Educação
Através dos Conselhos, respectivamente, precisamos no preparar para ocupar espaços nos
Conselhos de cidadania, onde existe tanto políticas como jogo de cartas marcadas, quanto
existem espaços de discussões e de propostas válidas com poder de decisão política. A questão é
capacitar-se para ocupar espaços ofertados. Nossa ausência ou omissão é uma das piores formas
de exclusão.
8. Conclusão:
Sua Santidade o Papa João Paulo II, em sua exortação apostólica Familiaris Consortio,
cunhou a emblemática frase, tantas vezes por ele mesmo reproduzida em suas inúmeras
admoestações de incansável apostolado pela unidade e santidade da família, em diversas
circunstâncias e diante dos mais de cem países que visitou: “O futuro da humanidade passa pela
Família”
Aparecida, em sua dimensão prática, no capítulo IX, discorrendo sobre a Família, as
pessoas e a vida, nos traz (nn.431-437) contundentes sugestões, contempladas ao longo da
presente exposição, explicitando porém, o que jamais pode ser relegado, ou seja, a preparação
remota, próxima para o matrimônio, o acompanhamento aos casais e às famílias, enquanto tais;
o diálogo da Igreja com os gestores públicos, para se garantir políticas a favor da vida e da
família e não o contrário!
Enfim, a PF é o chão de onde brotam iniciativas que efetivamente protegem a vida da
família e da sociedade, e vice versa, para onde convergem resultados exitosos de prevenção e de
promoção da dignidade da pessoa, da comunidade e da sociedade.
Confiamos à Sagrada Família a fecundidade do presente evento do Regional da CNBB
NE 2, realizado na nossa Arquidiocese, recomendando-o à participação e oração fervorosa de
todos e cada um de nós, comprometidos com o instituto familiar, auspiciando frutos que
permaneçam para além da realização do evento, o que evidentemente exigirá a efetivação de
etapas posteriores.
Espelhemo-nos nas maravilhas que o Senhor realiza na vida e na alma da Virgem Maria
Imaculada, de quem esperamos contar sempre com sua maternal dileção, como intercessora
universal da graças de Deus.
Ela consiga as melhores bênçãos do Senhor sobre todas as nossas Famílias!
Contando com a sua valiosa oração e compromisso, pelo Setor Família, em meu nome e
no de toda a Arquidiocese da Paraiba e da Pastoral Familiar, com o meu abraço fraterno, preces e
amizade,
In Iesu, Joseph et Maria,
+ Aldo di Cillo Pagotto, sss
Arcebispo Metropolitano da Paraiba