Siga o dinheiro: a ofensiva imperial na América Latina se evidencia em dólares

* O Orçamento da USAID e do Departamento de Estado aumentará em 12% em 2010. Com 2.2 bilhões de dólares destinados para a América Latina.

* 447.7 milhões de dólares são para "promover a democracia" na América Latina.

* 13 milhões de dólares são para "promover a democracia" na Venezuela.

* 101 milhões de dólares para "promover a democracia" na Bolívia.

* 3 milhões de dólares para um fundo especial da OEA para "consolidar a democracia representativa na Bolívia, no Equador, na Nicarágua e na Venezuela.

* 20 milhões de dólares para a "transição para a democracia" em Cuba.

* O Orçamento de Comando Sul aumentará em 2% para chegar aos 200 milhões de dólares em 2010; além de 46 milhões de dólares adicionais para melhorar a base militar de Palanquero, na Colômbia, para uso estadunidense.


* Não há dúvida nenhuma sobre a escalada de agressão imperial na América Latina durante os últimos anos. Desde o golpe de Estado contra a Venezuela, em 2002; do sequestro do presidente Aristide, do Haiti, em 2004; das intervenções nos distintos processos eleitorais na região; da reativação da IV Frota da Armada estadunidense, em 2008; das tentativas de gerar um conflito regional entre Colômbia, Venezuela e Equador; o separatismo na Bolívia e até o golpe de Estado contra Honduras, em 2009 e o alarmante aumento da presença militar dos Estados Unidos na região - tudo evidencia que o império está na ofensiva de novo na América Latina. Porém, além da manifestação visível dessa agressão, que busca neutralizar os processos de mudança revolucionária na região, há provas contundentes, inegáveis de que hoje em dia Washington está apontando para o Sul, com seu grande poder militar, diplomático, econômico e comunicacional.

Segue o dinheiro e encontrarás a verdade

A evidência sobre o aumento do financiamento durante os últimos anos por parte das agências de Washington aos setores da oposição na Venezuela, na Bolívia, no Equador e em outros países que estão construindo modelos alternativos ao capitalismo estadunidense, tem sido apresentado, denunciado e não tem sido desmentido. Que existe uma tendência a financiar e apoiar a desestabilização regional por parte do império, desde a chegada da Revolução Bolivariana, há dez anos, é um fato. Porém, não temos que examinar a evidência a partir de dez anos atrás; podemos simplesmente olhar a partir de hoje em direção ao futuro para comprovar que Washington financia não somente a desestabilização regional, mas também está aumentando esse financiamento e intensificando seus planos militares nos próximos meses.

A USAID, Agência de Desestabilização Internacional

A agência, que começou como o braço financeiro do Departamento de Estado, em 1962, para atender os assuntos "humanitários"; converteu-se durante o século XXI em um dos atores principais da contrainsurgência, sob a nova doutrina de Guerra Irregular de Washington. Em princípios de 2009 esta doutrina foi assinada pelo recém chegado presidente dos Estados unidos, Barack Obama, como parte de sua nova política de "smart-power", o poder inteligente, uma política que emprega o uso do poder militar juntamente com a diplomacia, com a cultura, com a comunicação, com o poder econômico e com a política. Existem dois grandes pontos de diferença entre a Guerra Irregular e a Guerra Tradicional: o objetivo e a tática. A Guerra Tradicional tem como objetivo a derrota das forças armadas do adversário, e sua tática principal é o uso do poder militar em sua forma mais tradicional -o combate e o bombardeio. A Guerra Irregular tem como objetivo o controle sobre a população civil e a neutralização do Estado, e sua tática principal é a contrainsurgência, que é o uso de técnicas indiretas e assimétricas, como a subversão, a infiltração, as operações psicológicas, a penetração cultural e a decepção militar (a tentativa de enganar as forças armadas do adversário para que reajam a ameaças que na realidade não existem, distraindo e desgastando suas capacidades e recursos).

Durante o século XXI, a USAID desenvolveu divisões dentro da agência que funcionam juntos com o Pentágono, como os escritórios de Gerência de Conflitos, Transição e Reconstrução, Democracia e Governabilidade, e Iniciativas para uma Transição, que estão reorientando seu trabalho rumo aos esforços de contrainsurgência. Assim, a USAID converteu-se em ator principal financeiro da desestabilização e pela penetração na "sociedade civil" em países estrategicamente importantes para os interesses estadunidenses.

No caso da América Latina, são esmagadoras as cifras de investimentos financeiros da USAID nos grupos políticos e na "promoção da democracia", que se traduz em termos reais como uma invasão silenciosa. Através de um Escritório para as Iniciativas para uma Transição (OTI, por suas siglas em inglês), que foi estabelecida na Venezuela em agosto de 2002, a USAID investiu 15 milhões de dólares no conflito político na Venezuela somente durante o último ano e meio. E há previsão de um financiamento de 13 milhões de dólares para 2010, um incremento notável em relação ao ano passado. Esses milhões de dólares alimentam o conflito no país, mantendo vivos a diferentes grupos de oposição e ajudando a criar novas organizações para continuar com seus planos desestabilizadores. Os beneficiários são conhecidos: Súmate, Sinergia, CEDICE, Red de los Barrios, Primero Justicia, Consorcio Justicia, Universidad Metropolitana, Liderazgo y Visión, CESAP e centenas de outros grupos políticos, ONGs e partidos políticos que vivem do dinheiro e do apoio que vem de Washington.

Por toda América Latina vai aumentando o orçamento da USAID e do Departamento de Estado (DOS) para promover a agenda e os interesses de Washington. Vemos alguns exemplos:

-Bolívia:
Orçamento da USAID/DOS para 2009 = 86 milhões de dólares;
Orçamento para 2010 - 101 milhões de dólares;
-Equador:
Orçamento da USAID/DOS para 2009 = 35 milhões de dólares;
Orçamento para 2010 = 38 milhões de dólares;
-Honduras:
Orçamento da USAID/DOS para 2009 = 43 milhões de dólares;
Orçamento para 2010 = 68 milhões de dólares;
-Nicarágua:
Orçamento da USAID/DOS para 2009 = 27 milhões de dólares;
Orçamento para 2010 = 65 milhões de dólares.

Também existe um fundo especial em 2010 de 3 milhões de dólares para o Fundo para Fortalecer a Democracia da Organização dos Estados Americanos (OEA), para "defender e consolidar a democracia representativa na Nicarágua, na Venezuela, no Equador e na Bolívia". Não é por acaso que o fundo vai dirigido a promover a "democracia representativa" em quatro países onde está sendo implementado um modelo de democracia participativa. Tampouco é coincidência que são países membros da Alba e que Honduras não está incluída na lista, já que o golpe de Estado contra o presidente Zelaya era tido como suficiente para resolver a "ameaça" da democracia participativa nesse país.

Além disso, o Orçamento do Departamento de Estado para 2010 inclui 447.7 milhões de dólares para "melhorar a segurança, fortalecer as instituições democráticas, promover a prosperidade e investir nas pessoas" na América Latina. Dentro desse valor estão incluídos 200.7 milhões de dólares destinados a Colômbia, para "consolidar as conquistas do governo da Colômbia na luta contra os grupos ilegais e armados e o narcotráfico", e 20 milhões de dólares para "promover a democracia" em Cuba, "ajudar os presos políticos e outras vítimas de repressão" e "promover a competição política dentro de Cuba". Esse Orçamento inclui também 6 milhões de dólares para "fortalecer e promover a sociedade civil, a participação cidadã, os meios independentes, as organizações de direitos humanos e os partidos políticos democráticos" na Venezuela, e um fundo de 91.1 milhões de dólares para o uso discrecional do presidente Obama para "promover os interesses" dos Estados Unidos na região. No ano passado, esse fundo somente alcançava a cifra de 23 milhões de dólares.

No total, são 2.2 bilhões de dólares que o Departamento de Estado e a USAID utilizarão na América Latina durante 2010. É um aumento de 12% em relação ao orçamento do ano de 2009, último ano da administração George W. Bush, que separava uns 1.9 bilhões de dólares para América Latina. Todas essas grandes cifras evidenciam a ênfase que o governo de Obama coloca em seu trabalho político na A. Latina e a intenção de retomar a dominação e a influência dos Estados Unidos no hemisfério.

O Comando Sul se potencia de novo

Porém, não são somente é o Departamento de Estado e a USAID que receberam um incremento financeiro para intensificar suas operações na A. Latina. A Guerra Irregular e o "smart-power" da administração de Obama também empregam o uso da força e força militar. Nesse sentido, o Orçamento que Obama solicitou para o pentágono para 2010 ultrapassa o último Orçamento de Bush -considerado naquele momento o mais alto da história- em quase 25 bilhões de dólares. São mais de 533 bilhões de dólares solicitados e aprovados pelo governo de Obama para suas operações em matéria de defesa para o ano que vem (o Orçamento do Pentágono do ano passado foi de 515.4 bilhões de dólares). Essa cifra não inclui os 80 bilhões de dólares adicionais para as guerras no Iraque e no Afeganistão e tampouco inclui o Orçamento da comunidade de inteligência de Washington, que se mantém secreto.

Porém, dentro dessa imensa cifra -sobre a qual as Nações Unidas disseram que com somente uma quarta parte do Orçamento de defesa dos Estados Unidos referente a um ano, poderíamos dar comida, casa, atendimento médico e educação a todas as crianças do planeta-, existem colaborações interessantes para a América Latina. O aumento do Comando Sul para 2010 é de 2% para chegar a 200 milhões de dólares, mais 46 milhões de dólares adicionais para melhorar as instalações da base militar em Palanquero, Colômbia. Também o Orçamento do Pentágono indica que uma das prioridades orçamentárias é a implementação da Doutrina da Guerra Irregular, incluindo a zona de operações do Comando Sul. Especificamente, destaca que, "O Orçamento para 2010 para o Comando Sul completará sua transformação e reorganizações para ser uma Organização ‘interagências’, que posiciona os Estados Unidos como o sócio mais atrativo nas Américas. O Comando Sul está marcando o padrão para assegurar que a organização opera de maneira eficaz em um ambiente do século XXI e que promove a democracia, os direitos humanos e as liberdades individuais, o livre comércio, a diplomacia, o desenvolvimento e a segurança para as Américas". Em essência, o ‘smart-power’ atua como tática da Guerra Irregular que emprega o uso do poder militar.

Privatização da Guerra na Colômbia

Adicional a essas cifras multimilionárias estão mais 550 milhões de dólares destinados anualmente para o Plano Colômbia. Quase a metade desses milhões chega às mãos de contratistas privados que operam como mercenários de um exército privado dentro do país sulamericano. Alguns dados de um documento desclassificado do Departamento de Estado, de 2007, revelam as operações, nomes e quantidades outorgadas a 31 contratistas estadunidenses trabalhando na Colômbia. A informação evidencia que a Polícia Nacional da Colombia, as forças armadas colombianas e até os corpos de inteligência são manejados por contratistas privados dos Estados Unidos, que são pagos pelo Departamento de estado e pelo Pentágono.


* Artigo escrito por Eva Golinger- Advogada venezuelano-estadunidense.

Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=40177