Síntese dos Documentos da Igreja – sobre o Ano Propedêutico – Contribuição: Pe. Paulo Jackson

Síntese dos Documentos da Igreja – sobre o Ano
Propedêutico – Contribuição: Pe. Paulo Jackson
O «Decreto Conciliar Optatam Totius», no número 14, previu a existência de
um «curso introdutivo» ao Seminário Maior. Em 1984, a CNBB publicou o documento
«Formação dos Presbíteros na Igreja do Brasil – Documento 30», onde estabelece
algumas orientações para os vários períodos da formação. O ano propedêutico ainda não
tem uma identidade própria. Aparece de maneira secundária juntamente com os
«Seminários Menores e Institutos Afins».
Em 1990, aconteceu o Sínodo dos Bispos sobre a formação dos presbíteros,
surgindo, em março de 1992, a «Exortação Apostólica Pós-Sinodal Pastores dabo
vobis». O número 62 da PDV resume a idéia do papa sobre esse ano preparatório:
a. Os candidatos ao Seminário Maior devem entrar com alguma preparação prévia;
b. Há poucos anos, isso era tranqüilo porque quase todos os candidatos provinham
do Seminário Menor e recebiam da comunidade eclesial uma formação cristã
razoável;
c. A situação foi alterada com a pluralidade cultural e com o surgimento das
vocações adultas;
d. Por isso, é necessário o Ano Propedêutico: «É útil que haja um período de
preparação humana, cristã, intelectual e espiritual para os candidatos ao
Seminário Maior. Estes candidatos devem, porém, apresentar algumas
qualidades determinadas: reta intenção, um grau suficiente de maturidade
humana, um conhecimento bastante amplo da doutrina da fé, alguma introdução
aos métodos de oração, costumes conformes à tradição cristã. Possuam também
atitudes próprias de sua região, pelas quais é expresso o esforço de encontrar
Deus e a fé1».
e. A Teologia é responsável pela intelligentia fidei, mas não se pode desenvolvê-la
se não se conhece a fides em seu conteúdo. Por isso, o Ano Propedêutico seria
responsável por uma apresentação objetiva, uma exposição positiva da fé a partir
do Catecismo da Igreja Católica.
f. Como há uma diversidade muito grande de situações pelo mundo afora, é
preciso um estudo avaliativo sério para se determinar o tempo, o lugar, a forma,
os temas deste período e sua coordenação com os anos subseqüentes da
formação.
No estudo sobre o tema, em nível mundial, encomendado pelo papa João Paulo
II, publicado com o nome Documento Informativo – O Período Propedêutico2, a
Congregação para a Educação Católica percebeu que a finalidade deste ano é bastante
plural, indo do âmbito doutrinal ao espiritual e vocacional. Isso justifica a grande
variedade de experiências propedêuticas com delineamentos vários3.
Surgiram duas orientações básicas: a) um curso propedêutico mais de caráter
acadêmico, como introdução ao Curso Filosófico-Teológico; b) um curso propedêutico
que observe as várias dimensões do processo formativo. No que diz respeito à duração,
há algumas variações: a) parte integrante do sexênio filosófico-teológico; b) parte não
1 Pastores dabo vobis, 62. Esse texto faz uma citação de Evangelii nuntiandi, 48.
2 Documento Informativo – O Ano Propedêutico, 1998.
3 Esses vários delineamentos podem ser entendidos a partir da variedade de nomes utilizados pelo mundo
afora. Eis alguns deles: Pré-Filosofado, Ano Propedêutico, Programa Pré-Teológico, Instituto de
Formação, Ano Preparatório, Ano Suplementar de Iniciação, Ano de Internato, Estágio de Orientação,
Curso de Apoio, Cursos de Remediação, Seminário Intermediário...
integrante do sexênio filosófico-teológico; c) ano propedêutico aos três anos de
Filosofia, seguidos de quatro anos de Teologia.
Assim, em quase todos os países do mundo, o Ano Propedêutico foi se
configurando como um período de discernimento vocacional, de maturação na vida
espiritual, comunitária e pastoral, e também eventual recuperação de preparação cultural
em vista da Filosofia e Teologia.
Em 1995, os bispos do Brasil, já à luz da Pastores dabo vobis, refizeram as
Diretrizes Básicas para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil. Nelas, há
um espaço bem razoável para o Ano Propedêutico, figurando com uma identidade
própria (nn. 52-62). Eis um resumo das principais decisões neste documento:
a. Cresce o número dos candidatos ao presbiterado que já concluíram o Ensino
Médio e até já têm Curso Superior, sem terem passado por grupos vocacionais
ou seminários menores.
b. Alguns trazem riquezas humanas, de fé, de eclesialidade e boa bagagem cultural.
c. Contudo, muitos trazem consigo muitas lacunas: visão fragmentada da própria
experiência de vida e da sociedade, lacunas nos estudos, fragilidades nas
convicções de vida e de fé, pouca iniciação à vida comunitária.
d. Esse período deve estar em função de um discernimento vocacional mais
maduro. Deve ser organizado como uma instituição autônoma, distinta e
articulada com as outras etapas da formação: residência e local próprio, com
programação específica; não inferior a um ano; após o Ensino Médio; uma
equipe responsável, valorizando a presença de leigos, homens e mulheres.
e. Ingresso precedido de um discernimento vocacional do candidato: conhecimento
das reais motivações – histórico pessoal no nível da família, comunitárioeclesial,
afetivo-sexual, sócio-econômico e intelecto-cultural.
f. Processo para o discernimento: consulta à comunidade de origem; visita aos
familiares; entrevistas; encontros vocacionais; e retiros.
g. Elementos principais do ano propedêutico: a) aprofundamento do discernimento
vocacional; b) aprimoramento da formação humano-afetiva; c) formação
espiritual com aprofundamento da experiência de Deus, da leitura bíblica e da
vida de oração e litúrgica; d) complementação da formação intelectual; e)
iniciação e aprofundamento da vida comunitária; f) adequada compreensão da
Igreja e do ministério presbiteral.
h. É um período voltado principalmente para o amadurecimento do candidato. Por
isso, a dimensão humano-afetiva deve ser central. É preciso usar
acompanhamento personalizado, dinâmicas de grupo e estudo dirigido.
i. Leve-se em conta: a) conhecimento de si mesmo, com qualidades e defeitos; b) o
conhecimento da sexualidade masculina e feminina; c) formação da consciência,
caráter, personalidade; d) equilíbrio no relacionamento interpessoal.
j. Na Dimensão Espiritual, o formando deve fazer uma profunda experiência de
Deus e amizade com Jesus Cristo, através de: a) exercícios espirituais e orações
dos salmos; b) celebrações; c) valorização das experiências de fé vividas
anteriormente; d) acontecimentos importantes em nível de diocese, Igreja e
Congregação; e) orientação espiritual.
k. Capacitação escolar – É preciso reforçar alguns aspectos da dimensão
intelectual: a) metodologia de estudos; b) português: gramática, redação e
literatura; c) uma língua estrangeira moderna; d) ciências sociais: história,
geografia e política; e) cultura brasileira; f) formação da consciência crítica da
realidade; g) música, artes sacras, cultura popular e teatro; h) noções de liturgia e
espiritualidade; i) introdução ao Mistério de Cristo e da Igreja, podendo basearse
no Catecismo da Igreja Católica.
l. Proporcionar um processo de abertura para a vida missionária: a) presença na
caminhada de uma comunidade sem assumir lideranças ou compromisso
estáveis; b) conhecimento da pastoral orgânica da Igreja, com especial atenção
para a Pastoral Urbana; c) experiências em situações limite; d) partilha de
experiências.
m. Deve ser um tempo forte de vida comunitária, para superar a tentação moderna
ao isolamento e individualismo. Desenvolver atitude de acolhida, abertura,
partilha e solidariedade.
n. Atenção para a origem cultural dos candidatos, sobretudo, os negros e índios.
Finalmente, em 2001, seis anos depois da aprovação das atuais diretrizes (Doc.
55), a OSIB promoveu um seminário nacional com o objetivo de avaliar a caminhada da
formação presbiteral no Brasil. O resultado foi publicado pela Série de Estudos da
CNBB (Doc. 83), sob o título Metodologia do Processo Formativo. Esse documento
tem a vantagem de oferecer pistas práticas para o processo formativo.
Na segunda parte, no bloco sobre Oficinas de Trabalho, o capítulo 3 (pp. 127-
132), é dedicado ao período propedêutico. Ais as principais contribuições:
a. Dimensão intelectual: a) constata-se muita deficiência em vários aspectos; b)
há variedade de formação básica: candidatos com nível superior e outros com
supletivo; c) falta formação doutrinal; d) muitas vezes, o propedêutico se torna
tempo de preparação para o vestibular; e) necessidade de uma equipe de
professores ampla e plural: leigos, leigas, religiosos, religiosas e padres,
incluindo psicopedagogos.
b. Âmbito da Espiritualidade: a) há experiências bem diferentes: movimentos,
pastorais e CEBs; b) importância da presença do Diretor Espiritual; c) meios:
diálogo personalizado, retiros, partilhas e outros.
c. Dimensão Pastoral: a) alguns têm uma atividade pastoral mais organizada, com
trabalho contínuo nas paróquias nos finais de semana; b) consiste em: visitas a
grupos que vivem situações-limite; c) muitos atuam na sua comunidade de
origem.
d. Dimensão Comunitária: a) há momentos de partilha de vida, de experiências, o
que fortalece a abertura e a convivência; b) tentativa de aproximação do clero da
diocese; c) às vezes, há ausência do clero e do bispo na formação; d) há
experiência de seminaristas que trabalham fora meio período (auto-sustentação).
e. Dimensão Humano-afetiva: a) a presença de psicólogos contribui para a
superação dos problemas; b) são usados métodos e abordagens diferenciados; c)
há, por parte dos formadores, dificuldade de se trabalhar a dimensão da
sexualidade; d) faltam recursos financeiros para cobrir gastos com psicólogos; e)
dificuldade de encontrar psicólogos cristãos.
f. Gerais: a) há diversidade de experiências: etapa independente; junto com o
Seminário Menor; junto com a Filosofia; funcionando há muito tempo; há pouco
tempo; b) uma PV bem feita muito contribui no processo de seleção dos
candidatos; c) contribui para a perseverança dos seminaristas; d) há resistência
dos bispos e do clero ao propedêutico; e) faltam formadores preparados; f) falta
aprofundamento dos documentos da Igreja sobre a formação dos presbíteros por
parte dos formadores.

 

Fonte: Internet