Arte de economizar
Apesar de se viver num contexto de consumismo exagerado, há muitos pseudo-economistas vindo a público incentivando a população a gastar mais ainda. Na verdade, baseados num sofisma lamentável: “Se você não compra, o comerciante vai falir; se o comerciante vai à falência, a indústria não produz, porque ele não comprará para vender e a indústria não produzindo haverá desemprego e a desaceleração da economia e o país cairá na recessão”. Os que já possuem a compulsão para gastar terão assim um argumento a mais para sua doentia atitude. Cumpre, portanto, uma reflexão sobre a arte de economizar. Antes de se pagar por um serviço, cada um deve verificar se ele mesmo pode realizar aquela tarefa, mesmo porque estará exercitando uma habilidade. É preciso evitar as compras convulsivas na base da pura emoção. Mister se faz pensar duas vezes antes de adquirir qualquer objeto, para não malbaratar o dinheiro em coisas supérfluas. A propaganda já é demais agressiva para que não se reflita antes de se ir às compras. É necessária a economia na alimentação, no transporte, nos lazeres, no vestuário. Bem diz o provérbio popular: “Real poupado, real ganho”. Sêneca sentenciou com perspicácia: “Defende sua liberdade quem sabe viver com economia”. É, de fato, maior virtude conservar o dinheiro adquirido do que ganhá-lo. O referido Sêneca deixou também este sapientíssimo conselho: “Compra somente o necessário, não o conveniente. O desnecessário ainda que custe um cêntimo, é caro”. O mundo é indulgente com a prodigalidade e malévolo com a economia, porque mais se amam os vícios do que as virtudes. O hábito de poupar é um sinal de domínio próprio, de superioridade individual, dado que mostra que a pessoa não é escrava de suas paixões, nem vítima da mídia, nem joguete de sua fraqueza, mas sabe tanto dominar-se a si próprio como bem administrar o que possui. Marden com razão mostrou que “o homem econômico pensa, reflete, projeta seu futuro e vive em segurança”. Assevera ainda: “Por não saber guardar as coisas de que hoje não temos necessidade, lamentaremos a sua falta, quando amanhã precisarmos delas”. Se é verdade que não se deve viver na inquietação sobre o futuro, seria estupidez alguém não planejar o porvir. Toda prudência no emprego do dinheiro é pouca e deve ser incentivada. Aquele que é parcimonioso tem muito mais condições de ajudar os outros do que o gastador inveterado, mesmo porque ninguém dá o que não tem. Planejar é algo louvável e inteiramente errôneo é o ditado “Para hoje dá, para manhã Deus dará”. Carnegie, pedagogicamente, ensinava que "a primeira coisa que um jovem ansioso pela prosperidade deve aprender, é viver com prudente economia, pois, deste modo, contrai o hábito de poupar, o mais valioso dos hábitos, porque é a base da fortuna honrada e marca a fronteira entre o homem selvagem e o civilizado! O hábito de poupar não só provoca a fortuna, como também aperfeiçoa o caráter”. Guilherme Mathews proclama que o único meio para se chegar a ser independente é evitar despesas supérfluas, inúteis. De Benjamim Franklin esta advertência: “Quem sabe gastar menos do que ganha, pode dizer que encontrou a pedra filosofal”. Este, realmente, jamais estará nas mãos dos credores, nem será oprimido pela necessidade, não sentirá o horror da fome. Os tempos difíceis como os atuais, quando as turbulências econômicas afetam o mundo, é hora de uma pedagogia da economia, a qual inclusive aumentará a riqueza nos dias vindouros. Com rara sabedoria alguém afirmou: “Dai-me um jovem que saiba economizar e farei dele um homem útil à sociedade”. Que se vinquem então nos espíritos, como estilete de aço em placa de bronze, o hábito inquebrantável de economizar, não se gastando nunca mais do que se precisa para uma vida digna e saudável. Trata-se de se ajustar as necessidades aos meios e a laboriosidade consiste no empenho do homem em adquirir o que é preciso para satisfazer as suas necessidades naturais sem ambições e sonhos fantasmagóricos .Para todo ser humano é importante não só saber ganhar a vida, como empregar o dinheiro com cautela e disto depende a possibilidade de se emancipar de toda a sujeição que não seja a do dever de dar à sociedade tudo quanto lhe compete, e deste modo, fazer a sua melhor obra neste mundo. Nunca é demais se firmar o princípio de que “a poupança sem avareza é o escudo em que partem os dardos da adversidade”. Empregar, isto sim, o que se tem a mais, na ajuda generosa aos pobres e aos necessitados. * Professor no Seminário de Mariana - MG
Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Local:Mariana (MG)