Direito à Vida

Cardeal Geraldo Majella Agnelo

Gostaria de iniciar esta reflexão com uma pergunta: Você ama a sua vida? Você a considera um dom de Deus?

É verdade que na limitação da inteligência e pouca vontade de amar desinteressadamente, pode alguém ser levado a considerar que seria melhor se Deus não se ocupasse da nossa vida. Ou mesmo, aceitando viver, seria mais cômodo não colocá-lo dentro dos nossos planos. Ele nos chama a atenção para referências estáveis para o agir, assim como as leis que mantêm os astros em suas órbitas não impedem suas evoluções nem a beleza de cada qual apresentar-se diante do universo.

A vida humana encontra a sua singularidade e infinita definição na sua semelhança com o criador. Além de nossa corporeidade, temos nossa espiritualidade. As etapas de nossa vida no tempo e as vicissitudes que enfrentam, mostram valores e apontam-nos missões para construir a convivência fraterna que pode e deve ser motivo de felicidade e de paz.

Que bom seria se as pessoas se amassem, sem nada exigir em troca. Se não conseguissem amar, ao menos não quisessem mal ao seu semelhante. Não queiram se deixar levar por um sentimento mal. Não culpem o inocente. A culpa pode estar no seu egoísmo, na sua falta de amor.

A vida é um dom para fazer a experiência do amor verdadeiro que é serviço ao semelhante. Ela só atingirá seu fim último se for sinal de salvação para o outro.

Na Semana Nacional da Vida, gostaria de lembrar quanto é sagrada a vida humana. A partir do óvulo fecundado, há uma nova vida humana hóspede no ventre materno. Se essa pudesse falar diria: ‘obrigado, minha mãe, por me acolher’. ‘Eu quero viver. O teu sangue corre do teu coração para o meu coração. Não haverá mais indiferença entre mim e ti. Eu quero viver, não quero morrer. Se me amares, eu te amarei até a minha morte! Espero sempre a tua proteção e amparo para o meu pequenino ser. Não posso me defender, confio na tua defesa. Eu proclamarei sempre que tenho o direito de viver, porque tu me deste a vida. Eu também começo a aprender amar, para ser assim durante toda a minha vida’.

Neste mundo, não somos donos de nada. Tudo o que temos foi recebido e somente o amor que tivermos no coração dará o conforto final de nossa existência.

A Semana Nacional da Vida e do Nascituro é ocasião especial para colocar em evidência o valor e a beleza desse Dom precioso que recebemos de Deus. De modo especial, salientamos o valor sagrado da vida humana em todas as suas dimensões.

Diante de tantos ataques que a vida vem sofrendo em nossos dias, é nossa missão reafirmar sua importância inestimável e inegociável. A vida é o fundamento sobre o qual se apóiam todos os demais valores. Conclamamos a todos que se empenhem sempre na defesa e promoção da vida e participem desta Semana da Vida. (43ª A.G. da CNBB, em 2005).

O Evangelho da vida está no centro da mensagem cristã (Evangelium Vitae, 10). Deus, Senhor da Vida, confiou aos homens o nobre encargo de preservá-la (Concílio Vaticano II G.S. 51). Por isso, a Igreja declara que o respeito incondicional do direito à vida de toda pessoa, desde a sua concepção até a morte natural, é um dos pilares sobre o qual assenta toda a sociedade e um Estado autenticamente humano. Defender o direito primário e fundamental à vida humana é um dever do Estado.

Não pode ter sólidas bases uma sociedade que se contradiz radicalmente, por um lado afirmando valores básicos como a dignidade da pessoa, a justiça e a paz, mas por outro, aceitando ou tolerando as mais diversas formas de desprezo e violação da vida humana, sobretudo as mais frágeis e marginalizadas. Só o respeito à vida pode fundar e garantir bens tão preciosos e necessários à sociedade como a democracia e a paz  (Evangelium Vitae, 101).

Não é só a guerra que mata a paz. Todo crime contra a vida é um atentado contra a paz. O aborto é um crime contra a vida e contra a paz, pois a vida individual e a paz geral estão estreitamente ligadas. Se quisermos a ordem social, é necessário construí-la sobre princípios tangíveis, na base dos quais está o respeito à vida humana, base também da civilização (Ib 101).

A civilização do amor e da vida é que dá à existência das pessoas e da sociedade o seu significado humano mais autêntico.
 
Fonte: CNBB