A vida é um mistério! Um mistério de amor! Você que me lê agora, só o faz porque alguém o acolheu em seu ventre, respeitou a sua vida. Talvez não soubesse se você era perfeito, porém permitiu sua existência. Alguém “existiu” (em latim existere – sair de si), sua mãe, para que você existisse. Na verdade é a força do amor que nos faz viver.
A vida. Estudamos para compreendê-la melhor, trabalhamos para vivê-la com mais qualidade, debruçamo-nos sobre teorias, argumentações, filosofias, em busca da felicidade. Indago-me por vezes: sabe o homem o que é a felicidade, quando nega a vida? Aborto! Negação da vida. Digo NÃO ao aborto em qualquer circunstância; com a propriedade daquilo que vivi afirmo a todas as mulheres do mundo: somos geradoras da vida! Nosso ser mais profundo brada esse grito: Vida! Negando-a, você nega a si mesma!
Impressionam-me as vozes femininas que, lamentavelmente, são propagadoras de um falso bem-estar, da eliminação de um “problema”, da interrupção de uma gravidez, ou como estão chamando atualmente, da “antecipação do parto” nos casos de crianças anencéfalas. Sinceramente, vivi esta realidade como mãe de Maria Teresa, bebê anencéfalo, nascido no dia 17 de dezembro do ano 2000. Hoje experimento uma liberdade interior surpreendente, consciência limpa e tranqüila diante dos meus filhos e de todos. Com muita liberdade faço conhecer a pequena Maria Teresa, um sinal de esperança na vida, mesmo nas condições das mais adversas.
Tenho outros três filhos, Ana Karine (15 anos), Felipe José (12 anos) e Maria Clara (9 anos). No início do terceiro mês de gravidez, com doze semanas de gestação, fiz um exame denominado translucência nucal, ultrassonografia, que revela se a criança tem alguma síndrome. Foi detectada uma má-formação grave denominada anencefalia (ausência de cérebro). Somente quando o feto já está completamente formado é possível identificar o problema. Era uma menina!
Apesar do impacto da notícia, nem por um momento ventilei a possibilidade de um aborto. Procurei ter o máximo de informações sobre essa má-formação que, segundo a literatura médica, é uma das mais comuns. O bebê vive apenas horas ou, até no máximo, um a dois dias. Minha mãe deu-me o direito de viver e eu daria também a minha filha esse direito, pensava naquele momento. Não sou árbitro da vida. Deus deu, pois que Ele tire quando for a hora. Cabe a mim a missão de acolher a vida, não importando as condições em que ela se apresenta. Ou será que posso abandonar, ou abreviar a vida do filho para o qual a medicina só prevê dias, ou horas, para viver? Dizem alguns que o bebê anencéfalo sofre quando nasce: Será sofrimento maior que ser arrancado aos pedaços no aborto por sucção, onde o feto é literalmente dilacerado?
Minha gravidez transcorreu normalmente. Fiz pré-natal, tomei as medicações necessárias. Interiormente sofria muito, por saber que minha filha não iria viver; mas procurei viver a sabedoria do dia-a-dia! Pensava: Hoje ela está comigo, por isso vou amá-la com todas as minhas forças. Amanhã, bem... Deus cuidará! Maria Teresa nasceu, chorou forte, admiraram-se os médicos. Seu caso foi considerado muito grave, não havia nenhuma proteção de pele em sua cabeça. Aguardávamos a qualquer momento o seu falecimento.
Passaram-se minutos, horas, dias... E a pequena Maria Teresa vivendo... Foi contemplada por muitos, interpelava as consciências. Como seria possível? Com 19 dias, recebemos alta hospitalar e Teresa foi acolhida em seu lar. Foi alimentada inicialmente por sonda, depois tomava leite materno por colherinha e mamava por alguns minutos. Meus outros filhos cuidavam dela, tomavam-na nos braços, ajudavam-me a banhá-la, sabiam que sua vida seria breve, mas aprenderam a respeitá-la e amá-la. Foram preparados, que passariam pela dor da perda, porém com a dignidade que esse mistério comporta.
Aos 29 de março de 2001, Maria Teresa realizou sua páscoa. Uma grande filha de Deus. Em seus breves, mas preciosos dias, exalou vida, sofreu, mas venceu. Mostra isso para mim, para você, para nós todos que o sombrio discurso do aborto é egoísta, significa fechar-se em si mesmo. Você, que é mãe, não se deixe levar pela onda hedonista, desumanizante, que avassala os corações tirando-lhes a possibilidade de experimentar a alegria de dar a vida, de renunciar-se pelo outro, de ver o amor vencer.
Hoje somos uma família muito mais feliz! Rogo a Deus que ilumine a consciência de nossas Autoridades para decidirem em favor da vida, seja ela como for.
* artigo escrito por Ana Cecília Araújo Nunes, mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará, professora da Universidade Estadual do Ceará, membro da Comunidade Católica Shalom. Artigo disponível no site da CNBB (http://www.cnbb.org.br/index.php?op=pagina&subop=504)