Projeto Eleições 2008 - Boletim nº 2

Boletim nº. 2 - Março

Da janela da minha cidade, enxergo o mundo
Carlos Drummond de Andrade

No boletim nº 01 falamos sobre a importância da participação de todos os cidadãos e cidadãs na definição das políticas públicas. Muitas pessoas, porém, dizem “Que diferença eu posso fazer, se o centro das decisões está tão longe de nós? Será que minhas opiniões e reivindicações serão ouvidas no Congresso, ou no Palácio do Planalto?” De fato, a grande imprensa privilegia as notícias nacionais e sobre economia, dando a impressão de que somente em Brasília são tomadas as decisões políticas. Mas aí reside um engano. Também na nossa cidade são tomadas decisões importantes. Não por acaso temos o conceito de “município”, que era o nome dado, na Roma antiga, &a grave;s cidades que tinham o privilégio de se governarem a si próprias.

O artigo 29 da nossa Constituição prevê que cada município deve ser regido por sua própria Lei Orgânica, desde que respeite as Constituições Federal e Estadual.

Não poderia ser de outro jeito, pois é nos municípios que a gente mora, trabalha, estuda, educa os filhos, faz compras, se diverte, busca atendimento de saúde, coleta lixo e trata água e esgoto, precisa de iluminação pública, transporte, segurança e todos os serviços necessários à vida cotidiana. É o município que tem significado concreto no dia-a-dia das pessoas. Quando saímos de casa e chegamos à rua, sabemos que estamos em Minas e no Brasil, mas o que realmente sentimos é a cidade ou a comunidade rural onde moramos.

Por tudo isso, é na política de nosso município que começa a participação cidadã. Isso não quer dizer somente votar, mas se interessar, compreender e se posicionar no processo político local, inclusive participando de uma campanha eleitoral ou de comitê contra a corrupção eleitoral.

Pouco adianta reconhecer pela fotografia os políticos da nossa cidade, se não sabemos a quais grupos estão ligados, quais interesses representam ou quais têm sido suas lutas políticas.

Começando de perto de nossa casa, influenciaremos também na política nacional. Uma liderança municipal pode projetar-se politicamente em âmbito estadual e federal, lutando por nossos direitos e reivindicando em favor de nossas causas, de modo a integrar as lutas municipais às grandes causas nacionais. As lideranças locais que são fiéis às suas origens levam a voz de seus concidadãos até os mais distantes centros de poder. Por isso se diz, com toda razão que devemos “agir localmente e pensar globalmente”.

O MUNICÍPIO E O PLANETA

É isso! Agir no local onde vivemos é participar em movimentos e associações de bairro, na comunidade, na Igreja, em grupos de ação social, associações profissionais, sindicatos ou partidos, mas tendo um horizonte muito mais amplo. Não dá para olhar somente para os problemas da nossa comunidade, nosso bairro ou nosso município. Afinal, vivemos um tempo de globalização e o que acontece no outro lado do mundo pode ter consequências diretas em nossa vida. Basta lembrar a questão ecológica.

Um dos maiores problemas do mundo de hoje é o descuido com a ecologia. Seus sintomas são o aquecimento global, a poluição das águas e do ar, a perda da biodiversidade, a exaustão do petróleo, a acumulação do lixo na terra e no mar, a desertificação e a perda da capacidade de auto-regeneração da vida. Dentro de mais duas ou três décadas a Terra entrará em crise e sofrerá muitas convulsões sociais, a menos que haja uma radical mudança na estrutura produtiva e nos padrões de consumo da Humanidade. Por isso, a agressão à natureza deve ser encarada como uma ameaça à Paz mundial.

As medidas que poderiam corrigir esse problema são barradas por empresas (para não diminuírem seus lucros), por países como China, Índia, Rússia e Brasil (que querem crescer rapidamente) e principalmente pelos Estados Unidos e outros países ricos (para não diminuir o nível de consumo). Diante desses gigantes globais, o movimento ecológico sente-se como o menino Davi diante de Golias: sua arma é apenas a consciência planetária. Cada dia aumenta o número de pessoas que buscam inovações como a economia solidária, preferem a produção local (que evita o custo ambiental do transporte), e aceita padrões de consumo mais simples para não prejudicar o meio-ambiente. Essa consciência de que somos todos responsáveis pela vida do nosso Planeta rejeita a idéi a de um progresso material sem limites e resgata o sentido da criação, pois “Deus tomou o homem e o colocou no Jardim do Édem, para que o cultivasse e guardasse”. (Gn 2,15)

A VIDA DO PLANETA

Na Conferência de Aparecida, os bispos católicos da América Latina e Caribe pronunciaram-se sobre esse tema: “como profetas da vida, queremos insistir que nas intervenções humanas sobre os recursos naturais não predominem os interesses de grupos econômicos que arrasam irracionalmente as fontes de vida, em prejuízo de nações inteiras e da própria humanidade. As gerações que nos sucederem têm direito de receber um mundo habitável, e não um planeta com ar contaminado, águas envenenadas e recursos naturais esgotados”.

Sintonizados com esse desafio, voltemos para a realidade local: nosso município e nossa comunidade são a base do processo das necessárias transformações sociais, econômicas e políticas em escala mundial. Esse processo vai desde pequenos, mas importantes gestos de respeito ao meio-ambiente – como não desperdiçar água e energia e reciclar o lixo – até a definição e execução de uma política ambiental de âmbito nacional, continental e global. Mas uma política ambiental começa no município. Assim, fica a pergunta:

·        O que significa agir localmente e pensar globalmente para uma política ambiental eficaz?

·        Como você vai celebrar o Dia da água (22 de março) e do Meio-ambiente (5 de junho)?

·        O que isso tem a ver com uma eleição municipal?
 
(Assunto do próximo boletim: A participação do cidadão na gestão pública)
 
Fonte: Folheto produzido pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Arquidiocese de Belo Horizonte em parceria com o Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião – PUC Minas. Mais informações no site www.pucminas.br/nesp, ou no Vicariato para Ação Social e Política:(31)34224430