Por Pe. Francisco Almeida
Quando se tem a consciência de que Jesus Cristo - seu projeto e suas palavras - continua sendo Boa Nova dá pra concluir que nem tudo está perdido. Do contrário, as contradições humanas e institucionais levarão ao fracasso a experiência à qual, pretensamente, dá-se um qualitativo de fé.
Vivemos no mundo e para o mundo. Essa é a condição antropológica por excelência que há séculos se tenta, sem nenhum sucesso, negar. A transferência dos nossos desejos e sonhos para uma realidade intocada e transcendente leva-nos ao vazio existencial que é responsável pela derrocada de inúmeras pessoas. Anselm Grün escreveu um livro cujo título nos diz muito: “O céu começa em você.” Não é possível que os cristãos continuem esperando um céu que só se concretizará no pós-morte. As pregações que mais se ouve por aí, de caráter (anti)cristão, buscam afastar o céu cada vez mais da terra. O mundo é apresentado como um ambiente pecaminoso e maldoso do qual se deve afastar, como se fosse possível fazer a experiência de Deus fora dessa realidade em que se vive. A prática e pregação de Jesus Cristo vão de encontro a essa intuição.
Encarar de frente a realidade é um desafio que exige coragem de profetas. Eis uma categoria escassa nos últimos tempos. Busca-se o caminho mais curto e mais fácil impondo fardos sufocantes às pessoas para tê-las sob os pés de uma estrutura caduca e contraditória.
Falta a coragem para desconstruir e reconstruir, numa dialética desestabilizadora, porém necessária. É preciso favorecer o encontro das pessoas com Jesus Cristo, deixar que Ele fale aos seus corações, que esse encontro geste homens e mulheres novos capazes de serem sinais de um novo projeto de humanidade. O interesse institucional não pode sobrepor-se a esse carisma cristão.