Meu amigo, que negócio mais sem graça esse que você escreveu, que discussão mais sem sentido, juro por deus me deu sono, negócio de derrubar casa em Areia ou sei lá onde, por caridade. Tem gente que pensa escrever nesse estilo é sinal de sabedoria. É coisa nenhuma.
Ei cara, esse espaço é para recados e pequenos textos. Você confudiu-se e escreveu um livro.
A queda da casa da memória
Turuna Tântalo acaba de me ligar informando que, segundo nosso amigo Zé Bebelo, um prédio
antigo daqui de Patos veio abaixo. Derrubaram, na verdade. Antes de prosseguir sobre esse
assunto, quero dizer que a notícia disparou a vontade de escrever um texto sobre um
negócio já antigo...
Tempos atrás, muitos tempos atrás, um grande amigo meu, colega de curso na faculdade,
resolveu estudar o patrimônio histórico na cidade de Areia, na região do Brejo paraibano.
Não era um ESTUDO, como esses que envolvem muita gente e recursos. Era um trabalho de
coleta de entrevistas dos moradores que ocupavam os imóveis tombados pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Areia possui quase toda a área do centro
composta de casarões, sobrados antigos, datados ainda do Império (Parêntese - Areia é a
cidade natal dos dois Américo: Pedro Américo, o pintor e romancista - sim!, poucos sabem
disso; e José Américo de Almeida, o político escritor, o d\'A Bagaceira - fecha parêntese).
Bom, esse meu amigo tinha um escopo, algo que se faz muito nas Ciências Sociais que eu
acho comum, porém não deixo de fazer minhas ressalvas: ele queria testar uma hipótese.
Coisa que na verdade quase sempre termina forçando uma realidade a entrar de qualquer
jeito numa roupa, e aí não se testa a hipótese, mas simplesmente se procura confirmá-la. O
que ele queria confirmar era que os conflitos que ocorriam entre os atuais moradores dos
sobrados, desejosos de poder dispor do espaço físico da casa de acordo com suas
necessidades, e as autoridades do IPHAN, que proibiam qualquer alteração no imóvel, eram
na verdade conflitos de ordem maior. Supunham uma briga de afirmação entre o Novo e o
Velho.
O problema é que, segundo entendi das conversas com esse meu amigo, o cidadão que queria
derrubar umas paredes e abrir uma garagem para pôr seu carro, ele se comportava como
\"agente da modernidade\". Numa dessas conversas, estava presente um professor da UEPB, pai
de outro grande amigo meu. Ao ouvir nosso diálogo, ele imediatamente questionou a
proposição. Não seria possível atribuir um caráter tão apurado de consciência a essa ação;
imputar a esse propietário a condição de \"agente da modernidade\" caso ele quisesse abrir
uma garagem, algo tão simples e pragmático. Neste caso, uma garagem é apenas uma garagem,
pelo que entendi. A demanda pode ser nossa, do nosso tempo, como para o tempo dos
escravistas reservar um pedacinho do Engenho pra construir uma senzala era normal; mas não
significa que o propietário está imbuído, possesso, do espírito da modernidade quando olha
e diz: preciso de uma garagem. Seria necessário um pouco mais para enxergar a afirmação da
modernidade neste caso. Ponto para o professor, assim penso. Além do mais, é possível
mudar e conservar ao mesmo tempo. Hegel, Marx, Lukács, Max Weber, Walter Benjamin e
Gilberto Freyre souberam muito bem disso. Dependendo de como se conduz esse movimento de
mudança/conservação, pode se chegar a resultados perigosos ou benéficos. Mas isso é
assunto pra outra conversa.
Antes que me apedrejem concluindo, por essas poucas linhas, que eu sou favorável à
derrubada de imóveis antigos para atender nossas demandas, eu acrescento à discussão: a
quem serve o patrimônio histórico? Ou melhor: quem se lembra dele? Melhor ainda: como se
lembram dele? O \"como\" já deixa claro, em questões de memória, o \"quem\". Mas o \"como\" leva
a discussão para outro patamar, do qual falarei mais adiante. Só de passagem vou rememorar
que patrimônio está mui claramente associado àquilo que pertence ao pai. Já se disse que o
Estado brasileiro é patrimonialista, em todos os sentidos. E essa atitude se estendeu ao
IPHAN que, ao ser criado por Vargas, definia patrimônio, no fim das contas, como as
\"coisas do pai\". Num nível um pouco mais simbólico, o que se erguia forte, imponente, sob
os auspícios dos patriarcas senhores de engenho da Colônia; depois sob o espírito do
Pai-Imperador, precisava ser preservado como totens sociais para lembrar a todos a
presença do pai, mesmo morto. O culto aos defuntos, como donos das vidas dos vivos, já foi
amplamente discutido por Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala. Eu me lembro de ver
fotos dos avós mortos nas paredes das salas das casas. E dizer assim parece tão longe,
quando na verdade isso ainda existe por aqui.
No caso específico de Areia, vou pôr aqui minha leitura particular. E peço mais uma vez
que esperem antes de me apedrejarem.
Todos os casarões, absolutamente todos, ninguém duvide que pertenciam a senhores de
engenho da região. A escravos é que não eram. A única coisa em pé na cidade que remete
diretamente a uma construção erguida para e pelos escravos é uma igreja, a Igreja de Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos, mais afastada do centro onde estão os casarões (ainda que
se possa dizer que as senzalas também eram erguidas para e pelos escravos). Para os
senhores, havia outro templo, mais próximo. Convido-lhes a conhecerem a cidade de Areia e
depois me contarem qual das igrejas é a mais preservada, ornamentada, arquitetonicamente
mais bem erguida. Dou uma garrafa de Bruxaxá de presente a quem acertar.
Se, por acaso, a idéia seja manter de forma inerte esses monumentos tombados, é difícil
defender que assim eles permaneçam pelos séculos dos séculos. Sobretudo se eles ficarem
nas mãos de particulares. E pelos meus instantes de revolta, muitas vezes defendi que
passassem com um trator no centro histórico de Areia e varressem aqueles casarões. Afinal,
boa parte da memória dos cidadãos do município que mora numa área afastada do centro em
casebres muito modestos e não-tombados (porque não-históricos) está ligada à memória dos
potentados dos sobrados. É presumível, pela coloração da pele dos que moram à margem do
centro tombado, de que maneira eles poderiam se lembrar daqueles casarões.
Mas felizmente, graças à minha aproximação \"conservadora\" de Gilberto Freyre, eu penso
doutro jeito sobre o tema. Primeiro, que o Estado é quem deve tutelar esse patrimônio
histórico. Isso acaba, até certo ponto, com o problema de alterações estruturais dos
imóveis. Segundo, que esse mesmo Estado deve fomentar o espaço desses prédios históricos
como verdadeiro território de disputa dos que, de alguma maneira, se lembram deles. A
casa, o engenho, a usina, a fábrica, mais do que lugares de expiação para muitos,
representam espaços de memórias conflitantes. Fazer com que essas memórias venham à tona,
mediadas pela pesquisa histórica, resulta em algo importante na reapropriação dos antigos
partícipes (ou dos herdeiros) daquele espaço. Como mostra Freyre, foi na casa, na repetida
luta do dia-a-dia, que tudo se construiu. Mesmo que tenha prevalecido a força do patriarca
sobre as mulheres, as crianças ou os escravos, dizer assim é simples demais. As tramas, os
enredos, o que se perde pelo cotidiano porque é pouco digno de nota escrita-documental -
aí reside o colorido das memórias em conflito. São as senhoras de engenho que se aliam aos
filhos mais velhos para destronar o senhor de engenho; são as tapiocas, os alfenins, a
cocada, a imbuzada que aliam as pessoas nas conversas de cozinha que podem decidir as
vidas e as mortes de muita gente; são as escravas que amamentam os sinhozinhos e contam
histórias de reinos encantados. Todo esse universo está em jogo e deve ser evocado para
esses espaços hoje. Esse é o \"como se lembrar\" a que aludi acima. A posição da memória que
demonstra a sua relação com o objeto - de superioridade ou de inferioridade. Mas hoje, ela
deve ser impulsionada para que se mostre que não existe mais a prevalência, ou pelo menos
não deve mais existir, das mesmas relações hierárquicas do passado. E até memória da dor
deve ser trazida para que se diga que \"aqui se sentiu dor\" para que a argamassa dessas
paredes expresse essa dor. É claro que existe o sagrado direito de quem queira esquecer e
deixar esquecido. Mas quem quiser lembrar, que conte sua versão para que seja acrescida à
memória do prédio. Essa é a minha atual noção de patrimônio histórico: mantenha-se o
máximo de coisas em pé mas que jamais se mantenha a neutralidade poeirenta das estátuas
que nada falam.
O IPHAN tem adotado novas prerrogativas para definir patrimônio histórico. Já foi um
avanço. Aqueles chamados patrimônios imateriais terminam por ser a grande sacada do que
defendia Gilberto Freyre. Estes, mais do que as construções em tijolos, quase sepulcros da
memória, possuem a dinâmica do conflito e da exaustão do cotidiano entranhados na alma.
Sejam desde a feijoada, as festas do bumba-meu-boi, ao aboio do vaqueiro na caatinga.
Estão para além dos monumentos.
Agora, o caso particular, que motivou a escrita desse texto. Trata-se da derrubada de um
casarão que fica no \"centro histórico\" de Patos. Coloco as aspas porque oficialmente ele
não existe. A memória, ou as memórias, ligadas a esse casarão eu não conheço. Não sei o
quanto delas foi reivindicada. A única coisa que sei é que ele pertenceu (isso eu suponho
pelas informações coletadas) à família do escritor patoense Allyrio Meira Wanderley. Vocês
certamente já devem ter ouvido falar dele aqui no blogue. Allyrio foi um romancista,
ensaísta, crítico literário e escritor ligado ao marxismo no Brasil que, depois de morto
precocemente (com 49 anos em 1955), desapareceu do cenário intelectual brasileiro. Atribuo
seu sumiço a duas grandes coisas: desapego pela própria obra, o que o levou a não ter
muito interesse em promovê-la, sem se associar a \"igrejinhas\" de intelectuais - isto fruto
de um grande orgulho na defesa de suas posturas ideológicas; e segundo, não sei se como
conseqüência do motivo anterior, ao escanteamento que ele sofreu após sua morte dentro da
história intelectual brasileira. Ironicamente, na mesma rua onde ficava o casarão de sua
família, existe o casarão de Ernani Sátyro. Este, preservado, transformado em museu e sede
da Fundação com seu nome, fundação de intenções com dinheiro público duvidosas. Ernani
Sátyro, o acolhido no colo de poderosos: durante a Ditadura Militar, ao qual deu total
apoio, foi nada mais nada menos que presidente da UDN, líder do governo no Congresso (???)
nos anos de Costa e Silva, quando presidiu o Superior Tribunal Militar (somente!!) e ainda
foi interventor do Estado da Paraíba. Belo curriculum.
O casarão dos Meira Wanderley é citado em dois romances de Allyrio, Sol Criminoso (1931) e
Ranger de Dentes (1945). Naquele, aparece nas primeiras linhas, quando é narrado o
episódio de uma chuva gigante que se abate sobre Patos e as águas derrubam algumas telhas
da casa; e no fim do livro, quando o Autor põe, para referendar o onde e o quando concluiu
o romance:
\"Palácio\", 5 de junho de 1925.
Patos - Parahyba do Norte.
As aspas são por conta de Allyrio. Acredito que para retirar a caracterização oligárquica,
imperial. Era mesmo um modo carinhoso, familiar de como fora batizado ou de como o então
jovem escritor, com 19 anos, o chamava (ele que nasceu em 1906).
Em Ranger de Dentes, existe a mesma menção no começo do livro, a chuva que derruba parte
das telhas. Na verdade, o romance mais tardio é uma \"esticada\" do primeiro, Sol Criminoso.
Mas isso é assunto pra outro lugar, assim espero...
Pra concluir, eu queria meio que abandonar toda essa verborragia daí de cima e dizer
apenas que, como pesquisador da obra de Allyrio, sinto muito pela extinção daquela casa.
Para ele, que em seus romances sempre apresentou personagens saudosos de sua terra natal,
agora não tem mais lar onde habite sua memória. Tomara que encontre o tronco de uma oitica
onde possa dizer:A minha sombra há de ficar aqui!
Lau Cariri
Admirador da obra de Allyrio Meira Wanderley
Fonte:Patosonline.
É verdade Geovania. Esses momentos de espiritualidade nas nossas Comunidades são mesmo muito bom.
Precisamos deles para fortalecer um pouco mais a nossa fé em Deus. Eles nos aproximam de Jesus e fazem nos sentir melhor.
A festa de Nossa Senhora das Neves foi maravilhosa, graças a Deus participei todas as noites. Cada celebrante deixou sua mensagem, fazendo-nos refletir sobre nossa fé e deixando-nos mais firmes.
\"Deus é imaginado pelo homem como um \"Ser Perfeito\". Nessa imaginação está a idéia clara do conceito de existência. Portanto, se Deus é um Ser Perfeito, logo Ele existe. O homem, que também imagina que Deus criou-o a sua imagem e semelhança, acredita que Deus tenha ética, moral e seja inteligente.\"
Caro Sinezio Melhorança,
Você quiz dizer: outra noite, não? Pois a hora que você escreveu o texto foi bem de madrugada.
Parece-me que não dorme. E a insonia é uma companheira assídua nas suas noites de solidão.(solidão?)
Mas, indo ao questionamento:
Paramos pouco para pensar nesse questionamento levantado. Se pararmos vamos ficar igualmente sem resposta. aCREDITAMOS QUE DEUS EXISTE. Mas quem é Deus? Por que confiamos tanto em alguém que não vemos? Disse que acreditamos e agora pergunto: Por que tantas vezes vivemos fazendo de conta que Deus não existe.
Acho que os \"teólogos marginais\" podem nos ajudar.
Melhoras enigmáticas para todos!
Nicodemos,
já li tantos textos teus cheios de poesias e encantos. Jamis imaginei que pra ti também seria dificil dizer \"te amo\"
Isso acontece com muitos de nós. è tão facil apontar defeitos. Dizer grosseirias. Por que é tão dificil dizer \"te amo\"?.
Será que é necessário sentar no sofá do psicanalista?
Mas que bom que de um jeito ou de outro, você consegiu...
Outro dia, em uma das minhas viagens delirantes pelo interior de mim mesmo, flagrei-me a perguntar como Deus gostaria de ser descrito pelos seus anunciadores. Sim, porque nós costumamos ficar indignados quando ouvimos falar que alguém nos descreveu para outrem de uma forma contrária à que nós gostaríamos. E Deus? Ao longo de milênios descrito e bradado pela boca de inúmeros pregoeiros; apontado como responsável por tantos acontecimentos felizes ou trágicos; invocado para o bem e para o mal pelos buscadores de patrocínio divino para seus feitos diabólicos. Como deveria ser descrito Deus? Um conhecido desconhecido que sustenta o enigma da existência a partir das apostas de sábios e tolos que se revezam numa constante insistência por descrevê-lo.
Ajudem-me, por favor!
Como definir Deus? Seria ele indefinível? Mas, concordar que sim não significaria o caminho mais fácil para fugir de um comprometimento com a tal identidade? Apelar para o mistério insondável que vela-se e desvela-se aos olhos de quem o contempla seria a saída mais cômoda, mais adequada, menos falível, mais evasiva?
Ajudem-me, por favor!
Melhoranças pra todos!!
Pensei em sentar com ele uma hora dessas. E falar todas as coisas que andam engasgadas aqui dentro. Coisas assim não esperam. Avolumam-se no peito feito bomba prestes a explodir. E um dia explodem. Ou simplesmente ressecam. Por que a demora, então? Penso que a hora é oportuna. Então, lá vai: - eu te amo, meu pai.